sábado, 2 de julho de 2011

De volta às minhas referências

Agora que desabafei a minha frustração pelos vícios da minha câmara, interrompendo a sequência de textos sobre fotógrafos que me marcaram (não vou ser pretensioso ao ponto de dizer que me influenciaram), penso ser justo dar lugar a fotógrafos que, sendo excelentes, não tiveram sobre mim o efeito de me despertar o gosto pela fotografia, ou pelo menos por certos estilos de fotografia. Há um que devo citar pela sua genialidade e pelas afinidades ideológicas que nos unem (sem que ele saiba que este minúsculo átomo sequer existe...): Sebastião Salgado. A sua fotografia é uma aventura em si mesma: os sítios onde esteve, as situações que presenciou e, sobretudo, as pessoas que fotografou, fazem dele um nome quase intimidatório perante a grandiosidade da sua obra e a eloquência da mensagem que transmite através da sua fotografia. Ninguém fotografou pessoas como ele; ninguém descreveu a condição humana, através da fotografia, como Sebastião Salgado.
 
Depois há um sem-número de grandes fotógrafos que, embora não sendo referências - de novo, no sentido que não me impeliram a fotografar -, merecem ser mencionados: Walker Evans, Yann Arthus-Bertrand (a foto imediatamente abaixo é dele), Robert Capa, Gérard Castello Lopes, Robert Doisneau e muitos outros que contribuíram para que a fotografia fosse elevada ao estatuto de arte. E há, evidentemente, três outros nomes que, embora me tenham estimulado, não posso, em bom rigor, considerar referências (embora talvez um dia a história lhes faça a justiça que não fiz): refiro-me a Michael Freeman, Joel Santos (de cujos livros colhi importantes ensinamentos) e, por fim, José Antunes, que não podia deixar de mencionar pela atenção que tem sempre reservada para mim e, sobretudo, por persistir em cultivar a fotografia num país onde tudo o que extrapole do futebol e do espectáculo foleiro é inviável.
Sendo eu o Manuel Vilar de Macedo, não seria de esperar que ficassem por mencionar alguns fotógrafos que detesto - uns pela sua superficialidade, outros pela gratuitidade da provocação (que não é mais que outra forma de superficialidade, já que nada resta que se mantenha na mente depois de ver as suas fotos): Annie Leibowitz, Bill Cunningham, Robert Mapplethorpe e Helmut Newton. Não há, em nenhum deles, nada que faça pensar, que nos leve a discutir as suas fotografias. Todos eles são de uma frivolidade gélida. As provocações a que me referi são como um impropério proferido por um condutor alarve: ao fim de dez segundos já esqueceu. Nada há neles para além do vazio que tomou conta desta sociedade absurda em que vivemos.
 Depois há o caso Leni Riefenstahl. Não sei onde a colocar: as suas fotografias são esteticamente perfeitas, e a sua vida é inspiradora em inúmeros aspectos, mas será possível pensar em Leni Riefenstahl sem se associar de imediato o III Reich e Adolf Hitler?

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