Quem visitar o website da Olympus (www.olympus-global.com) deparar-se-á, durante os próximos dias, com o seguinte comunicado:
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Não sei que dizer. Antes de mais, gostava de compreender o motivo por que a Olympus tem, mais do que qualquer outro fabricante de equipamento fotográfico, a capacidade de provocar reacções de consternação e apreensão junto dos seus consumidores, que não deixarão de ser sensíveis a este comunicado e a todos os acontecimentos que o precederam. Acontecesse este escândalo com a Canon ou a Nikon, e decerto as reacções da comunidade fotográfica seriam bem diferentes. Poderia acontecer a revolta pelo comportamento das sucessivas administrações, ou a preocupação pelo provimento de produtos no futuro, mas nunca o medo de se perder uma marca. Se isto acontecesse à Canon, o eventual comprador optaria por uma Nikon, e vice-versa. E o mesmo sucederia com a Panasonic ou a Sony: a reacção perante o desaparecimento das câmaras destas marcas seria a indiferença. Com a Olympus, porém, a angústia é de tal ordem que já se criou um site de apoio à marca!
Isto acontece porque a Olympus é única. Para além dela, só a Leica tem este tipo de estima junto dos consumidores. A Olympus é uma marca que conquista e fideliza os adquirentes dos seus produtos de uma maneira que, à excepção da companhia criada por Ernst Leitz, não tem comparação com qualquer outro fabricante de material fotográfico. Se a marca Olympus desaparecesse, a sua extinção iria provocar consternação e dilemas difíceis de resolver junto de muitos fotógrafos.
Dito isto - e quem elaborou o comunicado acima sabe bem que os consumidores de produtos para fotografia não deixarão de ser sensíveis ao pedido de apoio -, o lançamento deste comunicado é um gesto desesperado perante a situação em que a Olympus Corporation caiu. É um esforço - que pode ser tardio - para preservar a imagem da corporação, procurando tranquilizar investidores, clientes e consumidores, e uma tentativa de demonstrar transparência de métodos e honestidade. A verdade, porém, é que este esforço pode não convencer ninguém. Tsuyoshi Kikukawa e Hisashi Mori continuam no conselho de administração, embora em funções não executivas, e aqui o conselho de administração está perante um dilema: se os expulsar e mover procedimentos judiciais contra eles, a consequência será a saída da bolsa de Tóquio, cujas regras impõem o delisting das sociedades cujos administradores tenham cometido crimes relacionados com as suas funções durante o seu exercício; se os mantiver, perde a credibilidade, de nada adiantando comunicados como este (ou mais lancinantes ainda...).
É, evidentemente, louvável que a nova administração executiva queira descobrir toda a verdade quanto ao escândalo Olympus, e que revele publicamente, como se propõe, todos os factos que vierem a ser determinados em inquéritos e auditorias, mas não há qualquer espécie de contrição nesta atitude: é a única via que pode levar à sobrevivência da corporação. Só demonstrando esta vontade de descobrir a verdade é que a sociedade pode reaver a confiança, e hoje sabemos que as relações que se estabelecem no meio financeiro se baseiam no princípio da confiança. Foi a quebra desta que levou à crise que o mundo neste momento atravessa, com as consequências que todos conhecemos. O conselho executivo da Olympus não faz mais que a sua obrigação quando colabora com a descoberta da verdade.
Por outro lado, este comunicado pretende ser um dique que obste à debandada dos clientes e consumidores. E, de facto, este é um mau momento para que isso aconteça. É como pisar as mãos de quem se agarra à beira de um precipício. Há motivos de sobra para que os consumidores, clientes e investidores virem as costas à Olympus, mas, ao mesmo tempo, há razões ponderosas para que se mantenham.
Eu, por mim, não tenho pena nenhuma de milionários que se dedicaram à prática de fraudes - mas tenho receio de que se perca a única das marcas japonesas de equipamento fotográfico que consegue verdadeiramente conquistar os seus clientes. Seria lamentável que a marca Olympus desaparecesse. Se as coisas correrem mal, ao menos que seja adquirida por um fabricante independente que lhe dê continuidade. Se for parar às mãos da Panasonic, como se especula nos meios fotográficos, vai ter a mesma sorte que a National e a Technics.
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