terça-feira, 8 de novembro de 2011

E agora, Olympus?

O escândalo Olympus começa finalmente a ser esclarecido, e as últimas revelações são particularmente chocantes: descobriu-se que o pagamento de mais de seiscentos milhões de dólares a empresas de consultoria antes da aquisição da Gyrus por 1,9 mil milhões, bem como as aquisições de três empresas japonesas por um custo cerca de 70% superior ao seu valor real, serviram para encobrir perdas que a Olympus Corporation vinha acumulando desde os anos 90. Uma auditoria interna, chefiada por um juiz desembargador aposentado, divulgou hoje estes números, o que teve como consequência imediata a demissão de antigos auditores e de um tal Hishasi Mori, que era, com Tsuyoshi Kikukawa, um dos membros do conselho de administração cuja exoneração foi sugerida por Michael C. Woodford, o CEO da Olympus Corp. que foi despedido em 14 de Outubro. Com a divulgação destas notícias, as acções da Olympus caíram para perto do limiar que uma sociedade anónima tem de atingir para ser cotada na bolsa de Tóquio, o que significa que, se esta tendência continuar, a Olympus Corp. pode ser excluída do Nikkei.
A exclusão das transacções em bolsa pode vir a ter uma consequência óbvia - a insolvência da Olympus. Esta é uma hipótese cada vez mais provável. Mas as repercussões deste escândalo são ainda imprevisíveis: o Japão, cuja economia fora já severamente prejudicada pelas catástrofes do início deste ano - e também pelas cheias na Tailândia, uma vez que muitas empresas japonesas deslocaram a produção para este país -, está a ser seriamente afectada por este escândalo, minando a confiança dos investidores por um efeito de contágio cuja extensão ainda mal se começou a sentir. 
Quem diria que um fabricante de câmaras e lentes (e logo aquele que eu preferi...) ia estar na origem de uma crise que pode ter repercussões mundiais?
Na verdade, a Olympus não é apenas um fabricante de material fotográfico. A Olympus é um gigante da imagiologia médica que domina 75% do mercado mundial, e a divisão de fotografia representa apenas 16% do volume de negócios da Olympus Corporation. E tem ainda um negócio importante de áudio, e outro de instrumentos industriais de medição. Perante isto, ver a Olympus como um mero fabricante de câmaras e lentes não passa de um disparate. Este volume relativo da Olympus Imaging Corporation significa, por outro lado, que a marca Olympus pode desaparecer. O mais natural, com esta perda de confiança dos investidores - que se estão absolutamente nas tintas para a herança espiritual de Yoshihisa Maitani, para as lentes OM e para as PEN -, é que a Olympus Corporation venha a ser liquidada e as suas divisões lucrativas adquiridas por outras corporações. E a Olympus Imaging Corporation não é exactamente o sector mais lucrativo - pelo contrário, tem acumulado prejuízos ano após ano -, pelo que a sua aquisição poderá não suscitar o interesse dos investidores. Pelo que, a confirmar-se este raciocínio, a Olympus - o fabricante de material fotográfico - pode desaparecer. Há alguns motivos para ter confiança: as exonerações de Kikukawa e Mori podem ser um sinal de renovação e de vontade de pôr fim a práticas fraudulentas, que seria reforçado se Michael C. Woodford viesse a ser novamente designado presidente executivo, restabelecendo assim a confiança dos investidores. Pode acontecer que a companhia regresse à actividade normal, e que a divisão de fotografia não esteja em risco, mas isto parece muito pouco provável. O mercado costuma ser implacável com casos de fraude, especialmente quando atingem dimensões como este. 
Devo, pois, preparar-me para o eventual desaparecimento da marca Olympus; o mais provável é que ninguém tenha interesse em deter uma marca tão fortemente associada a um escândalo com estas proporções, e que os engenheiros altamente especializados venham a ser contratados pelas rivais. E, como sempre acontece nestes casos, avolumarem-se os números do desemprego. E nem sequer menciono as consequências que a insolvência da Olympus Corporation terá para a economia japonesa, nem as suas possíveis repercussões na economia mundial. Afinal de contas, o crash de 2008 começou com a insolvência de duas pequenas imobiliárias americanas, a Freddie Mac e a Fanny Mae, que não se comparavam, em dimensão, ao gigante que é a Olympus Corporation...  

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