terça-feira, 1 de novembro de 2011

Lentes analógicas vs. lentes digitais

Há algo que merece ser dito acerca das lentes de focagem manual que uso. A despeito de o uso de lentes de focagem manual nos dias de hoje poder parecer uma excentricidade de um lunático, a verdade é que, desde que tenho as minhas OM, raramente tenho usado as outras lentes - as da era digital, concebidas especificamente para a fotografia digital e para o formato micro quatro terços. Há diversos contras no uso das primeiras: o facto de serem de focagem manual torna-as absolutamente ineptas para a fotografia de rua; a 28mm é lenta (f3.5), e a 50mm comporta-se mais como uma pequena teleobjectiva do que como uma standard quando montada na minha câmara; e a necessidade de um adaptador não simplifica o seu uso, sendo praticamente impossível trocá-las com o adaptador montado na câmara. Simplesmente, estes problemas não as impedem de ser muito melhores que as Zuiko Digital em termos de cor, nitidez, ausência de distorções e desse factor subjectivo a que chamarei naturalidade.
Quanto à cor, as OM batem claramente as lentes digitais. Por muito boas que sejam as cores destas últimas - e são-no, não posso negá-lo -, as OM são ainda melhores. São cores mais vivas e saturadas e, contudo, mais naturais. Serão cores mais precisas que as da era digital? Tudo depende do que se entender por precisão: as cores das lentes para digital são ligeiramente mais frias, podendo dar uma impressão mais real da imagem - mas não dão a tridimensionalidade das OM, nem a sensação de prazer visual destas últimas. Com efeito, olhando para as fotografias feitas com as OM, fico com a  sensação de ter tirado fotografias; com as outras, mais parece que produzi ficheiros de imagem digitais.
Com a OM 28mm/f3.5
A nitidez das fotografias, uma vez dominada a focagem manual, é pura e simplesmente incrível. Nós não temos, na língua portuguesa, nenhuma palavra que, neste contexto, tenha o mesmo significado do adjectivo inglês sharp, que define melhor a noção de nitidez que pretendo exprimir. Quando bem focadas, as OM produzem imagens extremamente nítidas - muito sharp -, sendo fácil de perceber os pormenores mais subtis, o recorte das linhas e a precisão dos contrastes. Com uma tremenda vantagem sobre a focagem automática: quando estas não conseguem focar convenientemente, o resultado é imagens desfocadas. Quando os contrastes são insuficientes para que a câmara foque automaticamente, a única solução é reverter para a focagem manual - o que deixa as lentes em igualdade de circunstâncias. Com as OM, nunca há falhas de focagem - a não ser, evidentemente, aquelas induzidas por erro humano (o que, confesso, ainda acontece de vez em quando...). Focar manualmente é uma experiência inteiramente diferente, mas é muito mais compensadora que deixar que a câmara foque. E, atenta a possibilidade de a focagem automática ser impossível em determinadas circunstâncias, pode ser bem mais frustrante falhar uma imagem: na focagem manual, podemos sempre corrigir, seleccionando outra abertura ou rodando o anel de focagem um pouco mais; na fotografia digital, não há nada a fazer - a não ser reverter para a focagem manual (*). Dá muito mais satisfação obter uma imagem nítida focando manualmente do que deixando a câmara focar por ela.
40-150: falhanço da focagem automática

As OM não produzem distorção da imagem nem manchas de luz. É certo que as lentes produzem tanta mais distorção quanto menor ou maior for a distância focal, sendo as distâncias intermédias pouco sujeitas a distorções, mas é notório que as OM são superiores, em termos de construção, às lentes para digital, o que se traduz em menos distorção da imagem e menos clarões. Não há nem concavidade nem convexidade nas imagens obtidas com as OM, assim como não há aberrações causadas pelo ângulo de incidência da luz. São, contudo, bastante dadas a aberrações cromáticas, mas este é um problema de compatibilidade entre a câmara e as lentes.
Falta referir o elemento subjectivo a que chamei naturalidade. As imagens obtidas com as OM criam a sensação de maior concordância com a realidade que as lentes concebidas para digital. A surpresa é o facto de a 28mm ser, neste aspecto, ligeiramente superior à 50mm. Como referi, estamos num domínio subjectivo, mas a verdade é que as OM produzem imagens mais vívidas que as lentes 17mm e 40-150. São imagens mais ricas em tonalidade e mais tridimensionais, e estas características elevam o conjunto corpo-lente de um status próximo das compactas para um nível que só está ao alcance das boas DSLR.
Quando apenas tinha as lentes digitais, conheci alguns momentos de frustração com a minha câmara; por momentos, pensei que tinha já atingido o limite das capacidades desta, mas a montagem das OM fez brotar um potencial que me surpreendeu, fazendo-a superar a barreira da mediania. (Isto, aliás, só serve para provar que as lentes são mais importantes que os corpos, uma realidade que qualquer fotógrafo experimentado pode confirmar.) Por vezes a E-P1 parece ter sido feita para trabalhar com lentes de focagem manual, tal a qualidade das imagens produzidas por este conjunto. Com efeito, a E-P1 funciona inacreditavelmente bem com as OM. O que veio renovar o meu love affair com ela...
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(*) Descobri há pouco tempo que posso configurar o botão Fn (function) para alternar rapidamente entre a focagem manual e a automática. O que é de uma utilidade indescritível quando se usam lentes manuais, ou quando a câmara se recusa a focar automaticamente.

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