quinta-feira, 23 de junho de 2011

Que futuro para a fotografia?

Uma empresa americana denominada Lytro promete uma câmara de tecnologia revolucionária: primeiro tira-se a fotografia, depois escolhe-se a focagem. Isto é mesmo coisa de quem não tem mais nada para inventar, e é também um sinal destes tempos em que se procura a satisfação instantânea e sem esforço. Não é preciso ser um Yann Arthus-Bertrand para seleccionar o objecto que se quer fazer sobressair antes do disparo: basta escolher o ponto de focagem, regular a abertura do diafragma para o máximo e disparar. Mais simples que isto não há. Pode fazer-se com qualquer câmara e lente, mas não com as câmaras compactas mais comuns, cuja profundidade de campo é demasiado longa. Ora vejam:
Museu de Arte Sacra, Igreja de S. Lourenço, Porto
Tirei esta foto apenas três semanas depois de ter comprado a E-P1. Foi simples descobrir como isto se faz - até para mim, um completo principiante. Mas o que interessa à generalidade das pessoas é ter resultados sem dar demasiado trabalho aos neurónios. É para essas pessoas que a Lytro vai fazer câmaras. O bokeh ao alcance de qualquer um. Não quero parecer pretensioso, nem comportar-me como se pertencesse a uma sociedade secreta, mas não estaremos a abastardar a fotografia e a retirar-lhe o conteúdo artístico, tal como aconteceu com a música e a literatura à custa da massificação?
Entretanto, descobri que a Pentax - uma marca com que simpatizo, quanto mais não seja por ser daquelas que prosseguem o seu próprio caminho - acabou de lançar uma câmara compacta com lentes amovíveis. É a câmara mais pequena do género. Tenho sérias dúvidas que um sensor tão pequeno consiga produzir imagens de alta qualidade, especialmente quando se puxar pelo ISO, mas é mais um concorrente num segmento que tem vindo a crescer. Esta câmara é exactamente o inverso daquilo que muitos esperam das câmaras compactas de lentes intermutáveis: o que queremos é imagens de muito alta qualidade com câmaras pequenas e manobráveis sem ter de pagar o preço das Leicas. Poder trocar as lentes não tem valor intrínseco nenhum se só servir para tirar fotos de fraca qualidade. No caso desta Pentax Q, é apenas um argumento publicitário. Porque sei, à partida, sem necessidade de a experimentar, que é impossível que um sensor tão pequeno tenha um desempenho próximo do padrão das DSLR. Mais um exercício fútil de uma marca que não compreende as necessidades dos seus clientes.
A parvoíce tomou conta da indústria fotográfica, cujos tycoons devem imaginar que todos os consumidores são idiotas. Será que pessoas como eu, amadores que querem tirar fotos de qualidade, estão condenadas a ter de escolher entre a) produtos medíocres que vendem bem por causa do marketing feito à sua volta ou b) câmaras de grande qualidade, mas a preços proibitivos?

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