Já citei neste blogue os maiores fotógrafos do mundo, pessoas como Michael Freeman, Yann Arthus-Bertrand ou Ansel Adams. Pode parecer estranho que cite alguém que quase ninguém conhece como a minha principal referência na fotografia, mas se seguirem este texto compreenderão porquê.
Eu sou uma espécie de factotum da Federação das Colectividades do Distrito do Porto. Em 2010, esta organização de que sou vice-presidente da direcção organizou o seu 2.º Fórum Distrital do Teatro Amador, e fiquei incumbido de vários aspectos organizatórios, o que incluiu fazer o cartaz do evento. Como o fórum se fez no ano do centenário do nascimento de António Pedro e com a colaboração do Teatro Experimental do Porto, elaborei um cartaz com uma fotografia de António Pedro e enviei-o, para apreciação, aos meus colegas da direcção e a Júlio Gago, então presidente da direcção do CCT-TEP. Este respondeu-me que a fotografia que incluíra no cartaz havia sido feita por Fernando Aroso e que não poderia usá-la sem o consentimento do autor.
Como queria mesmo que o cartaz incluísse uma boa fotografia de António Pedro, telefonei a Fernando Aroso, que se prontificou a receber-me no dia seguinte, em sua casa, na Rua de Entreparedes, bem perto da Praça da Batalha. Vim a descobrir aquele que é o fotógrafo com a obra mais espantosa que conheço entre os portugueses, com a possível excepção de Gérard Castello Lopes. No preto-e-branco, está num patamar muito próximo de artistas como Koudelka ou Cartier-Bresson; na cor, é o igual de um Yann Arthus-Bertrand. Mas o que mais me impressionou foi a sua enorme simpatia e amabilidade, satisfazendo a minha curiosidade de diletante com um orgulho comovente numa obra cujo valor sabe reconhecer - sem arrogâncias, sem falsas modéstias e sem aquele acanhamento que destrói o talento de tantos. Durante aquele tempo, propôs, como contrapartida do uso da fotografia de António Pedro, ajudar-me a compor o cartaz, cujo resultado final foi o que se pode ver na imagem que encima este texto. Quase seria escusado dizer que foi o melhor de todos os cartazes que fiz para a Federação das Colectividades do Distrito do Porto.
Espantosamente, Fernando Aroso é um homem que, aos 89 anos, domina o Adobe Photoshop e usa o computador com uma familiaridade que envergonharia muitos jovens. Para ele, a fotografia digital não é uma bête noire - é um auxiliar utilíssimo da sua arte. Tinha todo o direito de ser um fotógrafo conservador que não acreditasse nos instrumentos da fotografia moderna, mas é um fotógrafo que ainda hoje utiliza a sua Nikon D60 e retoca as fotografias no Photoshop. É, aliás, um fotógrafo atento ao pormenor e rigoroso na composição: só me deixou usar a fotografia no cartaz mediante o compromisso de que apagaria umas sombras indesejadas e a soleira de uma porta cuja extremidade aparecia sobre o lado direito da fotografia!
Espantosamente, Fernando Aroso é um homem que, aos 89 anos, domina o Adobe Photoshop e usa o computador com uma familiaridade que envergonharia muitos jovens. Para ele, a fotografia digital não é uma bête noire - é um auxiliar utilíssimo da sua arte. Tinha todo o direito de ser um fotógrafo conservador que não acreditasse nos instrumentos da fotografia moderna, mas é um fotógrafo que ainda hoje utiliza a sua Nikon D60 e retoca as fotografias no Photoshop. É, aliás, um fotógrafo atento ao pormenor e rigoroso na composição: só me deixou usar a fotografia no cartaz mediante o compromisso de que apagaria umas sombras indesejadas e a soleira de uma porta cuja extremidade aparecia sobre o lado direito da fotografia!
Foi uma experiência inesquecível: saí de sua casa ao fim de três horas (quando apenas tinha lá ido para saber se ele consentia em que usasse uma fotografia de sua autoria num cartaz...) com a plena consciência de que acabara de conhecer um dos grandes cidadãos do Porto e um dos maiores fotógrafos portugueses. Foi ele quem despertou em mim a vontade de fotografar; se hoje nutro interesse pela fotografia, devo-o a ele. Se não fosse Fernando Aroso, não me teria tornado fotógrafo amador (se me é permitida a pretensão de me qualificar assim). Daí que figure em primeiro lugar entre as minhas referências.
Como referi, Fernando Aroso é um homem extremamente cioso da sua obra, sendo raro autorizar o uso das suas fotografias por terceiros. O que tenho de respeitar, pelo que não incluo aqui nenhuma das suas fotografias. Fernando Aroso foi, durante muitos anos, uma espécie de fotógrafo oficial do TEP: podem encontrar algumas das suas fotografias no website do TEP, dentre as quais destaco, pela composição, pelo enquadramento e pela tensão dramática que soube captar, a que fez da peça Antígona. (Que pode ser vista nesta hiperligação.) A sua obra, porém, é extremamente extensa, não se circunscrevendo à actividade desenvolvida com o TEP: a sua colecção de fotos do Douro vinhateiro, por exemplo, contém algumas das melhores fotografias que vi na minha vida.
Fernando Aroso não pode permanecer anónimo: é urgente que se faça justiça à sua obra.
1 comentário:
Nem de propósito: http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=684548
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