sábado, 3 de dezembro de 2011

O histograma e eu

O histograma é a representação gráfica da exposição. Patenteia as altas luzes, as sombras e as cores num gráfico que pode ser consultado directamente na câmara (no caso da E-P1 acede-se pressionando quatro vezes o botão INFO) ou, depois de se transferir a imagem para o computador, no programa de edição de imagem.
Ainda não consegui compreender a utilidade do histograma. Embora tenha aprendido a interpretá-lo correctamente, não sei em que é que ele pode substituir a minha visualização. Eu não preciso de um gráfico para entender se uma fotografia está sub-exposta ou sobre-exposta: basta-me olhar para ela para o perceber. Aliás, eu prefiro as minhas fotografias ligeiramente sub-expostas e com muito contraste, pelo que, a avaliá-las com base na informação do histograma, teria de concluir que estão sempre erradas. Os histogramas das minhas fotos poderiam, se fossem analisados sem olhar a imagem, ser interpretados como uma prova de inabilidade para fotografar (o que é apenas parcialmente correcto...)
Deste modo, costumo ignorar a informação do histograma, tal como costumo ignorar os gráficos que demonstram os valores da inflação ou da perda do poder de compra: estas são coisas que sinto, não preciso que sejam confirmadas por gráficos. Não preciso de um gráfico para perceber que estou a viver pior ou melhor que há um ano atrás.
Para quem se interesse por estas coisas - como é o caso de quem compõe a imagem no Photoshop - o histograma pode ser útil, pelo que seguem algumas indicações sobre como interpretá-lo.
- Quando as curvas do histograma estão maioritariamente chegadas ao lado esquerdo do gráfico, tal significa que a imagem está sub-exposta;
- Inversamente, a preponderância de curvas sobre o lado direito indica que a imagem está sobre-exposta.
Temos, assim, o primeiro elemento que importa compreender ao interpretar o histograma: o máximo de sombra é representado no lado esquerdo, e o máximo de luminosidade no direito. Curvas aproximadas ao lado esquerdo surgem quando a fotografia está escura, e vice-versa. A exposição ideal terá uma concentração de curvas a meio do gráfico.
Simplesmente, aquilo que é a exposição ideal para o fotómetro pode não o ser para o fotógrafo; este pode gostar de imagens muito contrastadas, ou pode ter interesse em imagens banhadas em luz. Em ambos os casos, estas fotografias tenderão a ser interpretadas graficamente como, respectivamente, sub ou sobre-expostas.
O problema surge quando o histograma apresenta informação demasiado chegada à esquerda ou à direita. Alguns histogramas têm uma marcação em ambos os lados, um pouco antes dos extremos horizontais do gráfico, que representam os limites da gama dinâmica. Isto significa que, quando as curvas ultrapassam essas marcas, a imagem excedeu aquilo que o sensor vai captar. Aqui pode haver um problema, já que as imagens em que esses limites sejam ultrapassados serão ou demasiado escuras ou demasiado claras e a imagem apresenta deficiências de resolução, com perda de pormenores da imagem nas zonas afectadas - mas isto é algo que se depreende imediatamente quando se visualiza a imagem no ecrã logo a seguir ao disparo do obturador. Concedo, contudo, que o histograma pode ser útil nestas situações - embora o bom fotógrafo tenha o cuidado de se certificar dos valores da exposição antes de tirar a fotografia, o que torna a informação do histograma redundante.
O que referi até agora refere-se à distribuição das curvas na horizontal, mas o histograma é uma representação a duas dimensões, pelo que também há que saber interpretá-lo na vertical. A informação na vertical mostra-nos a preponderância dos tons na gama dinâmica, sendo frequente que, por ex. na fotografia de uma rosa, que o magenta surja representado numa curva que excede o topo superior do histograma. Ao contrário da sub e da sobre-exposição no plano horizontal, isto não é alarmante - significa apenas que o sensor não conseguiu captar todo o espectro da cor, por este exceder a capacidade de captação (ou, se preferirmos, a sensibilidade) da câmara. Devo dizer que isto me acontece com bastante frequência quando uso as lentes OM, uma vez que não há comunicação electrónica entre a lente e a câmara, pelo que as aberrações cromáticas, não sendo controladas, se manifestam em curvas extremamente altas, excedendo o topo do histograma.
O que nos leva a uma revelação triste: o filme tem maior gama dinâmica que o sensor (*) e os extremos da referida gama são mais suaves, com melhor transição nas sombras e altas luzes. Enquanto a representação da gama dinâmica de uma câmara digital é uma linha recta entre o canto inferior esquerdo (sombras) e o superior direito (altas luzes), a mesma linha, na fotografia analógica, apresenta curvaturas nos dois extremos, assim evitando transições abruptas numa gama dinâmica que é mais extensa. Como as lentes OM são concebidas para responder a uma gama dinâmica mais extensa que a do sensor digital, as curvas que surgem no histograma são mais abruptas. Não é certamente isto que me vai fazer ir a correr comprar uma Olympus OM-1, mas está explicada a maior riqueza e saturação das cores quando uso estas lentes.
Acima de tudo, o histograma apenas é interessante para quem atribuir grande importância às questões técnicas, analisando as fotografias do mesmo modo que um economista interpreta a variação da inflação ou do produto interno bruto. O histograma é um auxiliar que pode ter a sua importância em casos pontuais, mas não é fundamental consultá-lo. O fotógrafo que pensa antes de carregar no botão de disparo terá previamente escolhido o valor da exposição para que a imagem não surja demasiado clara ou escura. De resto, a existência de problemas de exposição que o histograma possa patentear não significa, necessariamente, que se esteja diante de uma má fotografia. Daí que encare o histograma como algo de limitada utilidade e, em última instância, uma informação desnecessária.
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(*) Michael Freeman, Mastering Digital Photography, Ilex, p. 627 

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