domingo, 25 de dezembro de 2011

Balanço do ano, 4

A minha atitude perante a fotografia é a mesma que uma criança perante a vida: quero descobrir tudo, e tudo de uma vez só. Tenho necessidade de me exprimir artisticamente, mas creio que as minhas fotografias revelam também um lado imaturo de quem quer descobrir os limites da técnica e procurar soluções para os problemas técnicos da fotografia. Há muito autodidactismo nesta minha busca, e tenho consciência de que, em muitas das minhas fotografias, a forma prevalece sobre a substância e denota algumas limitações.
O que é uma boa fotografia? Decerto não basta que seja tecnicamente bem tirada, com a composição, o enquadramento, a exposição e a medição correctas. A fotografia tem de despertar uma reacção em quem a vê, mesmo que seja de simples prazer contemplativo. Nem sempre tem de ter uma mensagem, ou pelo menos uma mensagem explícita. Tomemos o exemplo da Derrière la Gare de Saint-Lazare, de Henri Cartier-Bresson: qual é a mensagem que retiramos dali, quando comparada com as fotografias de Josef Koudelka aquando da invasão de Praga ou as fotografias que Kevin Carter fez no Sudão? E, contudo, é uma fotografia desafiante para a mente de quem a vê.
No caso da fotografia acima, feita no palacete dos Andresens quando visitei a exposição memorável de fotografias de Harold Edgerton, o preto-e-branco pareceu-me a única opção. Ao abstrair do elemento cor, a fotografia a preto-e-branco produz o efeito de concentrar o olhar nas formas e nos contrastes. Esta é uma fotografia na qual as formas predominam, ajudadas pela conjugação das luzes e das sombras. Há nela um sentido puramente parnasiano que me agrada, e uma harmonia das formas que faz com que seja uma das minhas preferidas.
Por outro lado, tenho vindo a descobrir as potencialidades da fotografia com uma avidez juvenil. A fotografia acima é um exemplo desta descoberta. Convém abrir aqui um parênteses para referir que não costumo manipular imagens. Todo o trabalho de retoque da imagem (pelo qual não me sinto nada culpado) é feito com o Olympus Viewer 2. Apenas adoptarei o Photoshop no dia em que descobrir que a câmara já não consegue satisfazer as minhas necessidades de expressão. E esse dia está longe. Nesta fotografia usei uma abertura estreita e uma velocidade de disparo longa. Respectivamente, nada menos que f22 e 13''! E tive de escurecer a imagem consideravelmente para que os rastos de luz sobressaíssem.
Sinto que, enquanto não dominar a técnica, não serei capaz de extrair todo o potencial da fotografia. Uma câmara como a E-P1 é já uma máquina razoavelmente evoluída que permite aceder a inúmeras funcionalidades - não esqueçamos que é uma DSLR sem espelho e pentaprisma -, e quero saber tudo o que ela tem para dar. Quero dominá-la, concretizar o triunfo do homem sobre a máquina. Não por ter um interesse desmesurado pela técnica, mas para poder empurrar as fronteiras da minha fotografia para um nível superior que, embora longínquo, sei estar ao meu alcance. Não importa se daqui a dois, cinco ou dez anos.

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