sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Balanço do ano, 1

Nesta época é habitual fazer-se o balanço do ano, cujo fim está bem próximo. Apesar de considerar este género de exercício um pouco fútil, a verdade é que 2011 foi um ano muito importante para mim no campo da fotografia. 2010 já o fora - afinal de contas, foi o ano em que comecei a fotografar -, mas 2011 foi o ano em que pude aceder a uma câmara digna desse nome. A E-P1 transformou por completo o meu modo de fotografar, possibilitando o acesso a funções avançadas e, o que é mais importante, o uso de lentes de acordo com as minhas necessidades. Em 2011 aprendi a dominar a técnica, usando-a para melhor exprimir as minhas ideias. Sei que tenho ainda muito que aprender - se não tanto no domínio da técnica, pelo menos na inspiração e criatividade. Trago comigo uma limitação de monta: viajo pouco, e a minha cidade está quase a esgotar o potencial fotográfico. Ainda não fotografei tudo numa cidade onde se conjugam o campo e a praia, o cosmopolitismo e a aridez, a urbanidade e a ruralidade, o esplendor e a miséria, o frenesim e a calmaria - mas a limitação do espaço não significa uma redução das suas potencialidades fotográficas. Há ainda muito a fotografar em cada esquina, em cada porta e em cada passeio desta cidade fascinante que é o Porto.

Para este balanço decidi mostrar dezassete das minhas fotografias, seleccionadas dentre as que considero as melhores que fiz neste ano que chega agora ao fim. Algumas já são conhecidas dos leitores do blogue, outras não. Infelizmente, vi-me obrigado a inserir textos, o que as destrói por completo, porque sei que muitos visitantes deste blogue vêm aqui com o único propósito de descarregar fotografias, completamente alheios ao facto de estas terem um autor cuja criação, embora não seja particularmente brilhante, merece ser respeitada. Não suportaria saber que alguém descarregara uma fotografia minha e a usara como se fosse sua - não por minha vaidade ou pretensão, mas por condenar a usurpação em si. As fotos, contudo, podem ser vistas sem estorvos no Flickr, onde estão devidamente protegidas. 
 Esta fotografia foi tirada durante os ensaios do grupo Sesquialtera na igreja de S. Lourenço, também dita dos Grilos, no dia 30 de Abril de 2011. Era o terceiro dia em que usava a E-P1, que adquirira no dia 27. Preocupei-me em aprender a câmara no mais curto tempo possível para poder fotografar o concerto em condições decentes. As imagens saíram vastamente superiores às que tirara no Natal de 2010 neste lugar, com a compacta Canon A3150: as cores são muito mais naturais, o ruído infinitamente menor e os pormenores muito mais nítidos. Porque prefiro esta fotografia às do concerto propriamente dito? Antes de mais, pelas duas figuras em movimento à esquerda. Um mês antes, teria rejeitado a fotografia por entender que o arrastamento arruinara a fotografia; hoje, porém, vejo o arrastamento como um efeito extremamente interessante: ajuda a descrever o movimento e dá dinâmica à fotografia. E é uma fotografia em que há muitas coisas a acontecer ao mesmo tempo. Sem o perceber, usei os princípios da fotografia de rua num espaço confinado que não podia ser mais diferente da rua. Tecnicamente está fraquinha: tem muito ruído e, quando ampliada, nota-se haver pouca nitidez em alguns planos. Teria precisado de um tripé e de mais tempo de exposição, mas não está má de todo.
 Esta fotografia foi feita em Maio no Centro Português de Fotografia (antiga Cadeia da Relação). Nesta altura ainda fotografava no modo P. Como se pode ver, a medição feita pelo fotómetro é quase ideal: as grades do primeiro plano surgem como uma simples silhueta, o que significa que a exposição foi medida no céu, e não nas grades. Bravo, Olympus! Consegui uma fotografia extremamente dinâmica, com um contraste interessante entre a contemporaneidade da estrutura metálica e a vetustez das grades. Ao capturar este contraste, creio ter apreendido o espírito dos arquitectos que renovaram a Cadeia da Relação. É conceitual - eu gosto de fotografias conceituais, com pontos de fuga enérgicos e linhas bem vincadas -, geometricamente forte, e é, do meu ponto de vista, uma das minhas fotografias mais conseguidas.

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