quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Guia definitivo da fotografia nocturna (1)

Eu sei que já escrevi um texto sobre a fotografia nocturna, que está, no essencial correcto; simplesmente, ao tempo em que escrevi o texto, ainda não era um fotógrafo certificado. Agora que o sou, talvez as minhas sugestões sejam levadas mais a sério.
Sem brincadeiras: o texto anterior era pouco sistemático no tratamento dos requisitos da fotografia à noite, o que pretendo corrigir com este novo texto. De resto, mesmo sem o workshop, hoje conheço melhor as técnicas fotográficas que em Julho, mês em que escrevi o primeiro texto. Fotografar à noite não é simples, nem é intuitivo. De uma maneira geral, todas as configurações da câmara e da lente que se usam durante o dia têm de ser mudadas. Acresce que a fotografia nocturna traz consigo um problema sério, que é o do ruído digital, que tem o potencial de destruir a qualidade da imagem mas pode ser drasticamente reduzido, se forem tomados alguns cuidados.
De resto, a fotografia nocturna está nos antípodas do espontâneo e do improvisado. É um tipo de fotografia que exige estudo e antecipação, bem como uma preparação que não tem paralelo na fotografia diurna. Na fotografia nocturna não basta pegar na câmara e disparar, e não é qualquer motivo que pode ser fotografado de noite: as condições de iluminação do objecto são fundamentais para se obter sucesso numa fotografia.
A primeira observação a ter em conta, quanto à fotografia nocturna, é a necessidade absoluta de um tripé. As fotografias tomadas segurando a câmara com as mãos podem parecer decentes quando visualizadas no ecrã da câmara, mas não resistem a uma ampliação. Por mais estáveis que sejam as nossas mãos, e por mais ergonómica que seja a câmara, notar-se-ão sempre fenómenos de distorção por arrastamento, particularmente visíveis nas luzes artificiais.
O tripé não é um acessório que se adquira levianamente. Um dos meus colegas do workshop tinha um Manfrotto de base para segurar uma reflex da Nikon. Eu rejeitei esse tripé por receio de não ser suficiente para a E-P1 quando montasse lentes pesadas. Os tripés são concebidos para suportar determinadas cargas: um tripé com uma carga máxima de 1,5 kg não é adequado para uma reflex, cujas lentes podem ultrapassar facilmente esse peso. Inversamente, comprar um tripé para uma carga de 5 kg e usá-lo com uma compacta é um desperdício. Os tripés trazem consigo etiquetas ou folhas de instruções nas quais se indica qual a carga máxima que suportam: deve-se consultá-las antes de comprar o tripé, antecipando a possibilidade de adquirir teleobjectivas de elevado peso no futuro. É que algumas lentes - especialmente as teleobjectivas de abertura constante - podem servir também como pequenos halteres.
É importante referir que não é só de noite que se usa o tripé. Este pode ser usado em qualquer altura do dia, quando se requeiram velocidades de disparo lentas ou sempre que a fotografia exija grande estabilidade (como na macrofotografia). A fotografia nocturna é, porém, o domínio por excelência do tripé; a diferença que vai de uma fotografia tirada de noite com e sem tripé é a mesma que existe entre uma fotografia bem tirada e uma fotografia mal tirada.
Os principais requisitos do tripé são a estabilidade e a rigidez, que nem sempre são sinónimos. O meu tripé, um Manfrotto MK393-H, não é particularmente rígido, mas é muito estável. E um tripé rígido pode ser instável, se por ex. as fixações das pernas não forem seguras, ou se a cabeça não tiver um aperto suficientemente firme. A estabilidade e a rigidez contribuem para que as fotografias sejam desprovidas de distorções, permitindo fotografias de muito maior nitidez. É que, como veremos mais adiante, a fotografia nocturna requer tempos de exposição muito elevados, o que torna impossível obter boas imagens quando se segura a câmara com as mãos. Há truques que contribuem para uma ainda maior estabilidade do tripé: por exemplo, alguns tripés têm um gancho na base da coluna. Esse gancho serve para pendurar o saco do equipamento (ou qualquer outro objecto pesado), de maneira a aumentar a estabilidade. Outro truque, bem mais simples, é o de não elevar a coluna do tripé. A altura do tripé deve ser obtida estendendo apenas as pernas, e nunca a coluna. E, se a altura for suficiente, deve evitar-se estender totalmente as pernas do tripé.
O tripé deve ficar bem nivelado. Seria lamentável seguir todas as recomendações deste e do próximo texto e verificar, ao descarregar as imagens, que elas ficaram descaídas. Alguns tripés têm níveis de bolha incorporados; se não tiverem, deve usar-se um nível de bolha portátil; se não for possível encontrá-lo numa loja de fotografia, eis uma sugestão: alguns fabricantes de alta fidelidade, como a Ortofon, fabricam níveis de bolha pequenos para gira-discos, nos quais o nível correcto é fundamental. Em alternativa, se disponível, pode usar-se o nível digital da própria câmara. O nível pode ser ajustado na cabeça do tripé ou ajustando a altura de uma ou duas pernas.  
Refira-se, por fim, que os tripés se compõem de uma cabeça ajustável, à qual a câmara é fixada, e das pernas. Estes elementos podem ser adquiridos em conjunto (os chamados kits) ou separadamente, e esta é, em regra, a opção dos profissionais. Para os fotógrafos estritamente amadores, os kits são mais que suficientes. Os tripés podem ser construídos em quatro tipos de materiais: alumínio, madeira, fibra de carbono e basalto. O emprego de cada um destes materiais faz variar a rigidez, mas também o peso - o que é um factor importante quando se transportam vários quilogramas de equipamento. A escolha mais ajustada será a fibra de carbono, por ser leve e rígida, mas os tripés de fibra de carbono são caros. No caso dos fotógrafos sem pretensões, o alumínio é um bom compromisso entre preço, estabilidade e rigidez. (Continua)

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