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L'Atelier de l'Artiste, daguerreótipo de Louis Daguerre (1837) |
Se eu afirmasse aqui que uma fotografia - ou, mais exactamente, um daguerreótipo -, feita há cento e setenta anos, tinha mais resolução que qualquer fotografia digital dos nossos dias, sem fundamentar essa afirmação, muitos provavelmente pensariam que eu tinha ensandecido de vez e que estava a publicar textos a partir de uma cela de paredes acolchoadas no Rilhafoles. Daí que faça uma remissão para este artigo interessantíssimo que encontrei no Pixiq, para fundamentar o que acabei de escrever. Talvez assim acreditem em mim.
Antes de mais, convém esclarecer que um daguerreótipo é uma forma de criar uma imagem pela captação de luz inventada por Louis Daguerre no segundo quartel do Século XIX. A luz reflectida pelos objectos era fixada em placas de cobre revestidas por uma solução de prata. A imagem era tornada visível através do uso de vapor de mercúrio, o que causava problemas de saúde nos fotógrafos (ou, mais propriamente, daguerreotipistas). O daguerreótipo é, deste modo, o pai da fotografia.
De regresso ao artigo publicado no Pixiq, é interessante ver que um daguerreótipo contém muito mais informação que uma imagem digital. Devo dizer, usando um raciocínio analógico (em mais que um sentido), que o conceito de as antigas tecnologias serem superiores às digitais que lhes sucederam não me é novo: há doze anos que substituí o leitor de CD por um gira-discos como fonte principal nas minhas audições musicais. Daí que não tenha sido um choque aprender esta realidade. Aliás, isto é a repercussão de algo que é evidente se pensarmos um pouco: a diminuição da qualidade em favor da produção em massa. Temos bens mais baratos, com compromisso da qualidade.

Com efeito, esta agência desenvolveu e mostrou uma câmara, a AWARE-2, que atinge os gigapixéis. Decerto que esta tecnologia ainda requer muito desenvolvimento para que possa produzir imagens de qualidade - esta está limitada, no protótipo mostrado, pelo uso de uma lente de plástico -, e terá de ser desenvolvida para reduzir as câmaras a a proporções práticas: o protótipo parece uma fonte de alimentação arrefecida a ar, como as dos computadores desktop, que tivesse sido monstruosamente ampliada, mas este pode ser o caminho para a obtenção de níveis de resolução superiores.
O que nos mostra que a fotografia digital ainda está na sua infância. Um dia - provavelmente muito em breve - os sensores CCD e CMOS serão coisas do passado, substituídas por uma abordagem mais orgânica, que imite a natureza. Afinal de contas, os melhores instrumentos ópticos existentes são os olhos. Quando a tecnologia conseguir este grau de perfeição, teremos as resoluções com que muitos fotógrafos sonham.
Claro que nada disto pode esconder uma realidade triste: esta câmara que a DARPA desenvolveu serve, sobretudo, para aperfeiçoar a intromissão na vida privada de cada um. Esta tecnologia terá a sua aplicação em funções de vigilância, de maneira a poder devassar-nos com mais eficiência. Mas, se saírem daqui benefícios para a fotografia, penso que os fabricantes de equipamento devem estar atentos.
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