segunda-feira, 4 de junho de 2012

Duas compras (e um pedido de desculpas aos leitores)

No sábado passado (2012.06.02) comprei e instalei o DxO Optics Pro 7. Fi-lo depois de ter publicado neste blogue dois textos (aqui e aqui) em que dava conta das minhas conclusões e da decisão de não adquirir este programa nem o Lightroom 4, que também experimentara.
Entretanto, ocorreram alguns factores que me levaram a rever a minha decisão. A versão que experimentara quando escrevi aqueles textos ainda não suportava integralmente a minha câmara, pelo que não tirava partido nem da recuperação das altas luzes, nem da redução do ruído. A falta de compensação das altas luzes levava a que as imagens tratadas ficassem geralmente sobre-expostas, nunca recuperando convenientemente o pormenor escondido pelo excesso de exposição. E a E-P1, como todas as câmaras do formato micro 4/3, tem uma tendência preocupante para estourar as altas luzes. O mesmo quanto à redução do ruído: os resultados obtidos foram quase sempre insatisfatórios.
Por outro lado, os procedimentos de edição da imagem do Pro 7 são bastante distintos dos do Lightroom, o que levou a alguns erros de apreciação que não podiam deixar de se repercutir na opinião que formulei. O Pro 7 é um programa que, em certas circunstâncias, não necessita de qualquer intervenção do utilizador, bastando, muitas vezes, abrir a imagem e carregar no botão processar sem necessidade de ajustes pelo fotógrafo. Este grau de automatização produz quase sempre bons resultados, mas só se a câmara e a respectiva lente estiverem previstos e se se fotografar RAW. A minha tendência foi para alterar parâmetros da imagem como o fazia no Lr (e, antes deste, no Olympus Viewer), o que era um erro porque diversas ferramentas do Pro 7 são incompatíveis entre si, e o uso cumulativo de certas ferramentas degrada a imagem em lugar de a melhorar (por ex. alterar a curva de tons interfere nos resultados obtidos automaticamente com a correcção das sombras e das altas luzes, levando a perdas na qualidade da imagem, e não se deve usar o unsharp mask se se tiver usado o contraste local).
Entretanto surgiu a versão 7.5 do Optics Pro, já com suporte integral para a E-P1. Os problemas da versão que experimentei foram eliminados, e o programa é agora mais rápido a carregar e a processar as imagens. Os resultados, ao experimentar esta nova versão, deixaram-me de tal maneira entusiasmado que, depois de muita reflexão - e motivado por um desconto de 33%, o que não deixou de ser relevante -, decidi comprá-lo. Muitos leitores poderão entender que fui incoerente, ou pelo menos leviano na apreciação anterior, pelo que apresento as minhas desculpas a todos. Para compensar, vou publicar uma recensão completa do DxO Pro 7 em dois capítulos.
No dia seguinte fui a Serralves ver como estava a festa non-stop. É evidente que levei a câmara: às 10 da manhã era improvável existirem outros motivos que me levassem a Serralves só para me divertir. E não me enganei: era só eventos para crianças. Não gosto do Serralves em Festa: é frequentado por pessoas que não querem saber nada do que é a Fundação de Serralves - muitas nem sequer entram no Museu - e só vão lá para fruir gratuitamente de um espaço cuja frequência é normalmente paga. Claro que a direcção da Fundação de Serralves sabe disto e usa o evento para promover o Parque de Serralves e o Museu, e devem colher bons resultados deste marketing em termos de reconhecimento e notoriedade. Seja como for, isto leva a que, sempre que Serralves abre ao público, seja enxameado por gente que só vai lá à espera de receber uma T-shirt ou um chapéuzinho de borla, ou ao menos um balão para o catraio. Depois andam o tempo todo irritados pelos jardins, com uma carranca enorme, lamentando-se da falta de diversões e de não lhes terem oferecido aquela T-shirt que, apesar de ser do tamanho XXL, vermelha e com dizeres sem qualquer nexo com os seus gostos, havia de dar imenso jeito e sempre era de borla... Seja como for, eventos como este são sempre um maná de motivos fotográficos: podem ver as fotografias que fiz aqui, com uma selecção das que considero as melhores no meu flickr (hiperligações nas respectivas fotografias do álbum do facebook).
Como as multidões me enfastiam rapidamente, dei por mim numa feira do livro ad hoc a vasculhar livros. Entre eles estava um álbum de uma exposição do grande Gérard Castello Lopes, uma edição luxuosa que me estimulou instantaneamente as glândulas salivares. Afinal de contas, GCL é uma das referências da fotografia portuguesa - embora a importância da sua obra fotográfica tenha transbordado das fronteiras deste país - e considero-o o melhor fotógrafo português de sempre (sem desprimor para fotógrafos como Nélson Garrido, João Silva e tantos outros, porque Portugal é terra de bons fotógrafos). Depois de muitas errâncias e hesitações, acabei por comprar o livro. A propósito, este chama-se Aparições/Apparitions, foi coligido por Jorge Calado e editado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Folhear este álbum é um genuíno encantamento: a fotografia de Gérard Castello Lopes tem uma qualidade estética e artística que a situa no mesmo patamar que a de Henri Cartier-Bresson (que foi uma referência para GCL, o que se nota bem na sua fotografia de rua). Nós, portugueses, que temos tanta dificuldade em reconhecer os méritos dos nossos e do país, devíamos ter sempre presente este exemplo de um português que, apesar de pouco reconhecido intra muros, é um dos grandes fotógrafos do Século XX.   

Sem comentários: