quarta-feira, 13 de junho de 2012

E se...?

E se eu estivesse completamente errado quanto ao futuro das câmaras digitais quando vaticinei que as médio formato iam tornar-se mais pequenas e versáteis, atacando o segmento superior das DSLR? E se este ano tiver sido um ano charneira para as câmaras digitais, por ter sido lançada a câmara que pode moldar o futuro? 
E se esta câmara for uma das melhores de sempre?
A câmara a que me refiro é a Nikon D800E. É a irmã gémea da D800, e nenhuma delas é o topo da gama Nikon; acima delas está a profissional D4 (embora quase possa apostar que muitos profissionais vão preferir a D800E a esta última). As Nikon 800 têm corpos idênticos, os mesmos processadores e partilham o sensor fabricado pela Sony. Este é um sensor full frame (36 X 24 mm) que tem a maior contagem de megapixéis dentro deste formato: nada mais nada menos que 36,3 MP. A diferença entre a D800 e a D800E está na diferente disposição do filtro anti-moiré - ou anti-aliasing - nesta última (v. imagem abaixo). Este filtro serve para evitar a aberração óptica conhecida por moiré (serrilhado), que se verifica quando uma imagem digital é vista em tamanhos diminutos, mas produz os seus resultados introduzindo uma ligeira perda de nitidez nas bordas do objecto de modo a suavizar o aspecto daquelas - o que se repercute, evidentemente, na resolução. O «cancelamento» (termo da Nikon, não meu) do efeito deste filtro aumenta a resolução, com a contrapartida de tornar as imagens mais vulneráveis ao aparecimento do moiré (v. aqui) e de cores falsas.
Este número astronómico de pixéis teve uma consequência curiosa - tornou obsoletos alguns programas de edição de imagem, incapazes de lidar com uma resolução tão alta. Alguns tiveram de ser evoluídos especialmente para ir ao encontro da resolução da Nikon 800E. Mais importante, porém, é que estes 36 MP colocam a câmara no território das câmaras de médio formato. Estas câmaras estão por regra dentro de estúdios, dado o seu volume mastodôntico (as excepções são a Pentax 645D e a Leica S2, que, além de maiores, são mais caras que a Nikon D800E). Isto significa que podemos ter aqui uma câmara quase com o mesmo nível de resolução que as médio formato (que têm uma resolução à volta dos 40 MP), mas com uma versatilidade acrescida.
O único problema que um sensor com este nível de resolução poderia apresentar (para além da possibilidade de encher o disco rígido de um computador normal três ou quatro vezes mais rapidamente...) seria o nível de ruído aparente nas imagens. A relação sinal-ruído é, teoricamente, mais desfavorável do que a de uma câmara como a Canon 5D MkIII - há mais pixéis para a mesma área -, e a verdade é que o desempenho desta última com valores ISO elevados é melhor, mas os problemas de ruído da Nikon começam a ISO 6400, valor a partir do qual a Canon ganha vantagem. Simplesmente, essa vantagem não é esmagadora. De resto, uma sensibilidade como esta é insusceptivel de ser usada nas situações mais comuns. ISO 6400 é um valor extremamente elevado, mesmo se atendermos à tendência de alguns amadores para fotografar à noite segurando a câmara com as mãos, usando sensibilidades ISO altíssimas como se fossem um substituto do flash. Pelo que esta não é uma verdadeira limitação. ISO 6400 é uma exorbitância!
É possível que a Nikon D800E prefigure o futuro das câmaras digitais. É até plausível que um fotógrafo profissional só veja vantagens no seu uso em relação a uma câmara profissional, que é maior, mais pesada, mais cara e tem menor resolução. Resta saber o que fará a concorrência - entendendo-se como tal a Canon - perante uma câmara que pode vir a mudar a face da história da indústria fotográfica. A sua resolução é simplesmente incrível; contudo, há ainda um pequeno pormenor que importa corrigir - o surgimento de cores falsas (especialmente em RAW), consequência inevitável da disposição especial dos filtros anti-moiré desta câmara. Se este problema for corrigido - embora um bom programa de processamento de imagem remova facilmente esta aberração: no DxO Pro 7 basta carregar numa quadrícula -, esta pode ser a câmara do futuro: uma profissional a preço de uma câmara para entusiastas, com uma resolução equiparável a uma Hasselblad. Que tal?

2 comentários:

grouchomarx disse...

Tenho ideia que o lancamento da nikon d600, fullframe the gama baixa a precos inferiores a canon 7d, etc vai ser a grande perada no charco,e uma serie ameaca as mirrorless...


grouchomarx

Manuel Vilar de Macedo disse...

Não tenho conhecimento dessa câmara, mas uma FF a um preço decente é o início de uma nova época para as câmaras! Não me parece que ameace as mirrorless, porque mesmo há quarenta anos atrás havia as SLR para os profissionais e entusiastas e as rangefinders para consumidores e amadores menos exigentes. O que vai haver é cada vez menos justificação para monstros como as D4 e as 1D, ou para as APS-C de topo.
Digo eu. Isto de prever seja o que for na indústria fotográfica é como dizer se vai chover no dia 8 de Agosto.