domingo, 25 de março de 2012

Impressões

Ontem encomendei impressões, em formato 30/40, de cinco das minhas fotografias. Foram necessárias muitas hesitações até decidir mandar imprimir fotografias: antes de mais, pela minha exigência crónica, que não me deixa cair na auto-complacência de imaginar que já sou um bom fotógrafo e que leva a que eu seja o meu maior crítico das minhas fotografias. Sou-o, de facto: as minhas referências são tão ilustres, e os meus critérios tão altos, que é muito frequente duvidar que algum dia consiga fazer fotografias verdadeiramente boas, comparáveis com as dos meus fotógrafos favoritos. Só há muito pouco tempo me consegui convencer que algumas das minhas fotografias eram suficientemente boas, do ponto de vista do conteúdo (no próximo parágrafo referir-me-ei ao aspecto técnico),  para as mandar imprimir.
A outra causa das minhas hesitações era o receio de a qualidade das imagens ser insuficiente. Eu estou inteiramente consciente de que não tenho a melhor câmara, nem as melhores lentes (com a excepção possível das OM). Por muito valorosa que seja a E-P1, a verdade é que os níveis de ruído e difracção são muito elevados. E a resolução mediana, aberrações cromáticas e distorção da Pancake 17mm/f2.8 também não ajudam. Nada que se compare a uma câmara compacta, claro está, mas muito abaixo do que uma boa reflex - digamos, uma Canon 60D equipada com a famosa lente 50mm/f1.8 - pode fazer. 
Acresce que não uso Photoshop. Este programa - e similares - confere espectacularidade às imagens, mas eu optei, desde muito cedo, por obter os meus resultados confiando exclusivamente no controlo da exposição antes de premir o botão do disparo. Daí que fosse sempre tão importante ter uma câmara com boas propriedades de cor e JPEGs de alta qualidade. Aqui a E-P1 brilha, sendo necessário gastar muito dinheiro para fazer melhor (apenas a partir da Canon 60D é que vejo uma melhoria substancial na qualidade da imagem). É possível que a impressão mostre defeitos que me passaram despercebidos e que poderiam ser corrigidos com um programa de edição evoluído. Posso dizer que estas impressões vão pôr em crise esta minha opção por não usar o Photoshop (ou o Elements, o Lightroom ou seja o que for). Posso até vir a concluir que o Photoshop é indispensável - ou posso confirmar a justeza das minhas ideias acerca da edição.
Depois de todas estas dúvidas e incertezas, não sei como vou reagir quando vir as fotografias impressas. O que sei, contudo, é que a impressão, tal como a revelação, é o destino último e natural de uma fotografia. A fotografia existe para ser gravada no papel; tê-la para sempre sob a forma de ficheiro de imagem é negar ao botão a capacidade de desabrochar e se tornar flor. Apenas o papel dá a verdadeira dimensão da fotografia. O monitor, por melhor que seja, não substitui a experiência sensorial do papel; não substitui o toque, o brilho, a vividez e a tridimensionalidade de uma boa fotografia impressa em papel de qualidade decente. Não é que queira vendê-las, e decerto ninguém estará interessado em expô-las: encomendei as impressões para meu gozo pessoal, para comprovar ou infirmar as minhas convicções e, sobretudo, para saber se as minhas fotografias resistem a este que é o maior dos testes. Podemos passar o resto das nossas vidas a olhar fotografias no monitor, mas estas só adquirem autenticidade quando são passadas para papel. Nada se compara a ter uma fotografia nas mãos, a tocá-la e olhá-la - a senti-la. E isto é algo que o computador não permite.
As imagens que seleccionei podem ser vistas no Flickr (com direitos reservados), através dos seguintes links:

2 comentários:

José Antunes disse...

boa noite

não usar o Photoshop ou o Lightroom é como fazer fotografias com filme e não usar a câmara escura, entregando o filme a um sistema automático de produção.

Confie em mim Manuel Macedo. Usado com a mesma ponderação que teria na cãmara escura, o Lightroom - sobretudo este, que é afinal uma versão moderna e às claras da câmara escura - dá-lhe todo o controlo, cabendo-lhe a si a responsabilidade de dizer onde é que termina o trabalho. é uma ferramenta incontornável do moderno processamento fotográfico - sobretudo quando se usa RAW mas sempre e também com o JPEG - porque permite fazer, na essência, o mesmo que já se fazia na câmara escura. Sei-o por experiência, porque passei sábados inteiros de mãos no banho no Ar-Co, em Lisboa, e depois anos na câmara escura em casa e nos locais onde trabalhei. Hoje faço o mesmo (queimar, proteger, etc - no Lightroom. Experimente, sobretudo agora que o LR custa tão pouco.

abc

Manuel Vilar de Macedo disse...

Obrigado, José Antunes, mas as impressões a que me refiro no texto chegaram entretanto, e confirmaram a justeza da minha opção.
Repare que o que eu critico é o excesso de uso do Photoshop - tal como você mesmo o condenou num comentário anterior. Não sou dogmático ao ponto de dizer «Photoshop nunca!», e é possível que o venha a experimentar e descubra que é uma contribuição significativa para a melhoria da qualidade da imagem - tal como me está a acontecer agora com o Raw. Contudo, neste momento (a E-P1, a minha primeira câmara "a sério", vai fazer apenas um ano no dia 27 de Abril), importa-me mais trabalhar o conteúdo da imagem e dominar a exposição. O Lightroom pode esperar.
Obrigado,
M.