terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Visores (1)

Fotografar através de um visor óptico é uma das experiências mais entusiasmantes em fotografia. Embora esta asserção possa parecer uma redundância a quem usa regular ou quotidianamente uma DSLR, a verdade é que há uma multidão de pessoas que não o sabe, de tão habituada a compor as imagens através do ecrã. Outras pessoas não sabem, pura e simplesmente, como funciona um visor, ou que tipos de visores existem. Sendo eu um apaixonado pela fotografia cuja única inveja é voltada contra aqueles que têm a felicidade de usar um visor óptico, penso poder fazer aqui uma sistematização dos tipos de visores e procurar explicar como funcionam.
A categoria mais importante de visores é, pelo menos por enquanto, a dos visores ópticos. São estes os visores usados pelas câmaras reflex - com excepção das Sony da série SLT - e pelas chamadas rangefinders, entre as quais se incluem, entre outras, as Leica M8 e M9. Os visores das reflex e os ditos telémetros, que equipam as rangefinders, funcionam, contudo, de maneira completamente diferente.
Nas reflex, ou SLR (Single-Lens Reflex), a imagem que surge no visor é a mesma que a lente capta. São os visores mais precisos, e também aqueles que captam a imagem com maior claridade. Quanto mais não fosse, teriam sempre a vantagem de uma captação TTL (Through The Lens) em relação aos outros visores ópticos, mas os benefícios não terminam aqui: o visor das câmaras reflex permite a visualização de informações quanto aos pontos de focagem e medição, bem como da exposição e outras informações do disparo (embora estas informações sejam sobrepostas electronicamente). A imagem captada é desprovida de erros ópticos, a sua ergonomia facilita um manuseamento mais estável do conjunto câmara-lente e é possível implementar uma correcção de dioptrias, o que é de enorme utilidade para fotógrafos com problemas de acuidade visual.
Como funcionam os visores ópticos num sistema SLR? A luz captada pela lente entra na câmara, onde é desviada, através de um espelho, para o pentaprisma, e daí para o visor (ver imagem). Esta não é a única implementação possível do sistema SLR: nas Olympus E-300 e Panasonic L1, a luz é desviada para um pentaprisma lateral - e não no topo da câmara, como na generalidade das SLR -, embora o resultado acabe por ser idêntico. A FujiFilm tem uma implementação semelhante na sua X100, como veremos ao analisar os visores híbridos.
Os visores ópticos de outras câmaras (não reflex) podem ser incorporados na câmara ou externos - como o Olympus VF-1 da imagem do topo -, sendo estes últimos montados na sapata do flash. Embora as características de claridade sejam comuns aos visores das SLR, estes outros visores, ao não proporcionarem a imagem que é colhida pela lente, apresentam problemas de vária ordem: antes de mais, necessitam de um sistema de ampliação para poderem corresponder à dimensão da imagem fornecida pelas diversas distâncias focais quando, por ex., se usam zooms. Este sistema, incorporado nas Leica da série M, torna a implementação do visor extremamente cara e complexa. Os visores ditos de telémetro, com efeito, podem não apresentar a imagem na mesma dimensão com que a lente a capta, induzindo erros de apreciação na composição e enquadramento se não forem usados sistemas de compensação da distância focal. Naturalmente, este problema não existe quando o visor está calibrado para funcionar apenas com uma lente de distância focal fixa, mas mesmo neste caso pode manifestar-se outra desvantagem que afecta estes visores: os erros de paralaxe. O eixo de visão da lente e o do visor podem não coincidir, pelo que o enquadramento da imagem obtida pelo visor divergirá da imagem que é realmente captada pela lente. As Leicas têm um sistema de correcção de paralaxe, o que vem adicionar ao seu preço e complexidade, e o resultado nunca será tão preciso como o das SLR.  Acresce que estes visores - em particular os externos - não mostram informação sobre a exposição, apenas exibindo guias (linhas e pontos) para facilitar o enquadramento, que podem não resultar se os erros de paralaxe impedirem a convergência dos eixos ópticos. Os visores de telémetro possuem um sistema de auxílio de focagem que é conhecido de quem já usou uma rangefinder: a focagem dá-se quando as duas imagens idênticas do mesmo objecto que surgem no visor ficam perfeitamente sobrepostas. (Continua)

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