sábado, 7 de abril de 2012

O Google e eu

O Statcounter, aplicação que incorporei neste blogue, é um instrumento de análise poderoso. Com ele consigo saber quantas visitas tenho, mas também de onde vêm, como chegaram ao ISO 100 e o que procuram. É este último aspecto que me tem surpreendido: não é de esperar, num universo tão grande como é a Internet, que todas as pesquisas do Google sejam interessantes ou inteligentes, mas algumas merecem figurar nos anais da idiotia internacional. A estupidez humana é ilimitada.
Comecemos por esta busca: «aprender a fotografar como profissional». Ó homem: quer aprender a fotografar como um profissional? Tire um curso de fotografia! Que pensa - que vai aprender a fotografar como um profissional através de pesquisas na Internet? Eu senti a necessidade de frequentar um workshop quando se me tornou evidente que os conhecimentos empíricos não são suficientes, e mesmo assim ainda não aprendi a tirar todo o partido da câmara; como é que alguém pode ter a ilusão que vai fotografar como um profissional a visitar sites na Internet? Isto é o equivalente àqueles trabalhos de casa copiados da Internet, mas aplicado à fotografia.
Outra pesquisa interessante: «como fotografar 5 megas». É muito simples: pega-se em cinco megas e dispõem-se no enquadramento desejado. Pode ser em linha ou num pentágono, ou dispostos aleatoriamente. A única dificuldade pode ser encontrar os megas, mas estou certo que o António Mega Ferreira tem irmãos, filhos, primos ou sobrinhos em número suficiente para compor a imagem.
Há também questões sérias. Vou intercalar aqui uma pesquisa que parece digna de resposta: «fotografar à noite sem tripé». Para tanto é necessário um valor ISO elevado e uma abertura grande, de maneira a poder usar velocidades de disparo elevadas - sem as quais as imagens surgem tremidas, porque não existe ninguém com mãos tão firmes que permitam fotografar à noite com velocidades de disparo lentas. Com sorte, e uma câmara e lente a custarem mais de €5000, há-de se conseguir fotografias com alguma nitidez, sem que o ruído destrua completamente a qualidade da imagem.
De regresso aos disparates, encontrei esta pequena maravilha: «como fotografar nítido Canon 60D». O quê - alguém comprou uma Canon 60D e não consegue obter imagens nítidas? Para que a comprou? Meu caro amigo, mude de hobby. Isto é um caso de patologia, ou simplesmente de não saber o que fazer ao dinheiro. Com um pouco de sorte há-de aparecer algum familiar a propor uma acção judicial de inabilitação contra ele, com fundamento em prodigalidade. Francamente - comprar a melhor câmara equipada com sensor APS-C do mercado sem saber fotografar é mais que fundamento para que o juiz decrete a inabilitação. Pessoas como esta não podem ter dinheiro no bolso.
Uma pesquisa particularmente profunda é esta: «foto com alta profundidade focal». A pessoa que googlou isto demonstra alguma confusão quanto a dimensões, porque um objecto ou é alto ou é profundo. «Alta profundidade» é uma contradição nos termos, como «careca de cabelo comprido» ou «um tipo alto e baixinho». E «profundidade focal» é um conceito que não conheço - e, provavelmente, ninguém conhece. Conheço «profundidade de campo»; «profundidade focal» talvez seja o limite até ao qual as focas conseguem mergulhar.
Esta é também muito curiosa: «impressão da digital do dedo direito». Antes de mais: qual dedo? Querem ver que este googlador só tem um dedo em cada mão? Se for assim, compreendo o estado de desregramento mental desta pessoa: se só tivesse dois dedos, um em cada mão, também me sentiria confuso. Pelo menos nas primeiras semanas. E será que este pesquisador tem uma digital no dedo direito? Isto pode ser muito interessante, se soubermos qual é o substantivo qualificado pelo adjectivo «digital». É o quê: uma câmara digital? Uma fotografia digital? No dedo? Hmmm... Como «digital» também se refere a «dedo», temos aqui mais um pleonasmo. Ou será um dedo digital? E, se for este o caso, o que é um dedo digital? E que impressão pode ele causar?
Por fim - e estas preciosidades são apenas as mais interessantes da última semana, porque há certamente muitas mais -, não podia deixar de mencionar esta busca: «qual o conteúdo do direito». Bom, eu estudei direito cinco anos na faculdade mais prestigiosa de Portugal, tenho vinte e um de experiência profissional, e ainda não descobri qual o conteúdo do direito. Ou melhor: não sei resumir o conteúdo do direito a uma frase simples, de algibeira. Nem sei muito bem a que se refere o nosso googlador. E não é certamente o Google que vai ajudar a descobrir qual o conteúdo do direito. Para além de recomendar as leituras dos tratados de filosofia do direito de Gustav Radbruch e Josef Esser, ou das sebentas de António Castanheira Neves, não sei que mais dizer. Nem sei sequer por que razão o Google retribuiu este blogue como resultado da pesquisa.

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