sábado, 4 de agosto de 2012

Fotografia de objectos em movimento

Modo S, f4.5, 1/1000, -1 EV
Na minha cidade - o Porto, Portugal, para quem ainda não o tenha descoberto - há uma tradição de décadas que se tornou num espectáculo extremamente procurado por turistas e residentes: no Verão, nas tardes de calor, dezenas de adolescentes e jovens da Ribeira mergulham nas águas barrentas do rio Douro, saltando a partir do tabuleiro inferior da ponte Luiz I (que o tempo e os modos rebaptizaram de «Ponte D. Luís»). O que torna estes saltos tão especiais é a elevada altura do tabuleiro inferior em relação ao rio, que, dependendo das marés, pode variar entre dez e quinze metros. Com uma altura desta magnitude, são saltos arriscados, mas é exactamente este risco que os torna tão especiais.
É preciso que diga que os rapazes e raparigas que saltam daquela altura recebem de mim o estatuto de heróis. Quando era da idade deles, tinha à minha disposição a prancha de mergulhos das piscinas do Clube Fluvial Portuense, com duas alturas diferentes: cinco e dez metros. Nunca tive coragem de saltar da plataforma superior e, das poucas vezes que saltei da prancha de cinco metros, foi sempre com os pés entrando primeiro na água, e nunca de cabeça. Pois bem: há alguns destes jovens da Ribeira (embora poucos) que mergulham com as mãos entrando na água em primeiro lugar. O que é um feito que tem muito de extraordinário.
É evidente que quem salta tem consciência do risco que corre. É notório que muitos dos que se penduram na borda da ponte hesitam durante muito tempo antes de saltar, e alguns benzem-se antes de o fazer. O que é compreensível: um salto mal executado, com o corpo tocando na água na horizontal, é como cair no chão, porque a resistência da água, nessas circunstâncias, é enorme. O corpo tem de perfurar a água, o que só pode ser feito se o corpo mergulhar perpendicularmente à linha da água. Como se o salto não fosse suficientemente arriscado, muitos dos que saltam não dominam suficientemente as técnicas de natação, e o Rio Douro é um rio de correntes fortes.
Claro que um dia eu havia de tentar fotografar estes saltos. Eu adoro fotografar a minha cidade, e aqueles mergulhos são um dos seus acontecimentos mais interessantes. Na sexta-feira, 2 de Agosto, tentei fazê-lo pela primeira vez. Usei a lente zoom 40-150/f4-5.6, que é suficiente em matéria de distância focal, e seleccionei a focagem e disparo contínuos, mas uma falência cerebral grave levou-me a fotografar no modo A, seleccionando a maior abertura possível.
Modo A, f4.5, 1/250: um desastre!
Os resultados foram pouco menos que desastrosos. Nenhum dos mergulhadores ficou nítido. Com as distâncias focais usadas, a abertura máxima era da ordem dos f4.5, o que levou o fotómetro a seleccionar tempos de exposição de 1/250, que são insuficientes para congelar o movimento. Além disto, a focagem automática é particularmente complicada com aquela lente, tornando-se muitas vezes errática: falhei muitas fotografias porque a câmara se recusou a focar. Este não é apenas um problema da lente: é também uma dificuldade do sistema de detecção de contraste.
Ainda por cima, as fotografias não isolam o objecto como eu gostaria. A profundidade de campo é sempre muito grande, o que significa que a câmara não focou os mergulhadores, mas um ponto qualquer no plano de fundo (ou, se focou os primeiros, focou também uma porção do plano de fundo). Teria precisado de usar uma lente mais rápida, com uma abertura máxima de, digamos, f2.8, e uma câmara com sistema de focagem automática por detecção de fase. Tudo materiais caríssimos cuja aquisição, atento os tipos de fotografia a que me dedico, não se justifica: a fotografia de objectos em movimento rápido deve corresponder a 1 ou 2% do que eu fotografo.
No dia seguinte, depois de verificar o fracasso das primeiras fotografias (não houve unsharp mask que lhes valesse), voltei ao mesmo lugar. Desta vez usei o modo S (prioridade ao disparo), usando velocidades bem mais elevadas que os 1/250 da véspera. Procurei manter o tempo de exposição num mínimo de 1/1000, o que ainda não era o ideal - mas era o possível, atenta a abertura máxima da lente 40-150. Para isto recorri a uma função da câmara que, por fotografar maioritariamente no modo M, raramente uso: a compensação da exposição. Nalguns casos a compensação teve de atingir -1 EV, para evitar que as altas luzes estourassem e manter a exposição correcta.
Os resultados foram consideravelmente melhores do que os da véspera, como se pode ver na imagem que encima este texto. Se esta for ampliada e olhada criticamente, veremos que a focagem ainda não é a ideal, porque subsiste alguma distorção por arrastamento, mas o que obtive é incomparavelmente superior aos resultados do dia anterior. Tirei partido da focagem contínua focando cada mergulhador enquanto este se preparava para saltar, pelo que a taxa de erros na focagem diminuiu consideravelmente. Claro que teria gostado de usar uma câmara que me desse 10 fotogramas por segundo, em lugar dos míseros 3 fps da E-P1, e também teria feito muito melhor se tivesse uma lente com uma abertura maior, o que me possibilitaria o uso de tempos de disparo mais rápidos e contribuiria para o desfoque do plano de fundo (o que teria resultado em fotografias muito mais interessantes) - mas, para obter estes resultados com a qualidade a que aspiro, teria de ter uma Nikon D800 ou uma D4, ou então as equivalentes da Canon). Como quem não tem cão caça com gato, o que fiz foi o melhor que pude e sabia com o material que tenho. Ainda tenho muito a aprender quanto ao uso de zooms e à fotografia de objectos em movimento, mas parece-me que ontem dei alguns passos firmes nessa aprendizagem - a despeito das limitações do equipamento. 

1 comentário:

Anónimo disse...

PAra obter os resultados que queria não precisa de «voar » para máquinas como a D800 ou semelhantes de outras marcas, há modelos de valor mais baixo que lhe chegavam perfeitamente para isto e muito mais.

OLM