quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Telescopia

Vivitar 75-30mm/f4.5-5.6, a. k. a. «A Bisarma»
Sempre que me convenço que tenho material em quantidade suficiente para satisfazer as minhas necessidades de fotógrafo amador, surge-me pela frente uma oportunidade irrecusável. Foi assim com a OM 50mm, e também com a 28mm. E agora, poucos dias depois de ter afirmado, neste mesmo blogue, que estava plenamente satisfeito (sic) com o equipamento que tinha, surge-me esta coisa mastodôntica e monstruosa pela frente. Por cerca de uma centena de euros. Como podia resistir? Sou, desde hoje, o proprietário de mais uma lente de focagem manual dos tempos da fotografia analógica. E, pela primeira vez, adquiri uma lente que não é Olympus: é uma Vivitar, mais precisamente a 75-300mm/f4.5-5.6, mas é feita para a série OM.
Devo dizer que a aquisição de uma supertelefoto esteve sempre nas minhas cogitações, especialmente desde que me dei conta de que a 40-150 não era suficiente para fotografar as garças e os corvos-marinhos que habitam o estuário do Douro com a dimensão de que precisava. Atendendo que a lente 75-300 da Olympus para micro 4/3 custa cerca de €700, não posso dizer que tenha sido mau negócio - mesmo com o peso acrescido e a perda da focagem automática.
Antes de mais, um esclarecimento quanto à distância focal: os leitores que lêem este blogue sabem da existência de uma distância focal equivalente, pela qual a distância focal de uma lente, medida pelos padrões do formato 35mm, é multiplicada por um determinado factor quando montada em câmaras com sensores de área menor que os 35mm; sabem também que, no caso das câmaras micro 4/3, como a E-P1, esse factor é de x2, pelo que o que tenho desde hoje de manhã é uma lente com a distância focal equivalente de 150-600mm. O que é considerável.
A Vivitar 75-300 é uma lente imponente: embora não seja um monstro como as Canon EF, a sua dimensão física e peso são bastante avantajados. A qualidade de construção é boa, mas não está no mesmo patamar que as minhas prime da Olympus: Há mais plástico (embora de qualidade aceitável) e os comandos não têm o mesmo toque que o anel de focagem das Zuiko, mas é uma lente bem construída que transmite imediatamente uma sensação de qualidade. Mais de metade do seu comprimento é ocupada pelo enorme anel de focagem e zoom (o zoom obtém-se fazendo o anel avançar ou recuar), que é integralmente revestido de borracha de toque agradável. O anel de regulação da abertura é na base da lente, a baioneta é de metal e, na extremidade, há um pára-sol integrado que desliza e se fixa com firmeza quando colocado em posição. O pára-sol é pouco mais largo que a lente, uma vez que, com um ângulo de visão de apenas 8º (equivalente a 4º na E-P1), não interfere no campo de visão.
A Vivitar 75-300 não é exactamente rápida: com uma abertura máxima de f4.5 na distância focal mínima e f5.6 na máxima, não é uma lente para fotografar ao entardecer - e muito menos, claro está, à noite. Curiosamente, apesar do peso e da abertura reduzida, é possível fazer fotografias de grande nitidez segurando o conjunto câmara-lente com as mãos. Contudo, esta lente não dispensa o tripé quando se pretende nitidez a grandes distâncias, o que obriga a diminuir a abertura e, consequentemente, a reduzir a velocidade do obturador. Mas não faz sentido queixar-me: uma lente com estas características de distância focal com aberturas maiores seria inacreditavelmente cara  e pesada. E o peso acrescido obrigaria, de qualquer maneira, a usar o tripé...
Pormenor a cerca de 15 metros de distância. Fotografia por Sérgio Modesto
A minha primeira surpresa, quando experimentei a lente na loja, foi a enorme nitidez com que esta lente capta objectos a grande distância. Esta é uma lente para fotografar pormenores longínquos. Mesmo segurando a câmara com a mão, a imagem tem enorme claridade e nitidez, captando cores naturais e tonalidades neutras. Apesar do peso e do tamanho, fotografar com esta lente é uma experiência agradável: os comandos respondem muito bem e torna-se confortável segurar a lente, graças à aderência da borracha usada para revestir o anel de focagem e zoom.
O meu gato Sousa, a 2 metros de distância (sem cropping)
Esta é uma lente capaz de imagens de enorme qualidade cromática e tonal, mas o que mais impressiona é a quantidade e qualidade do pormenor. Mesmo fotografando a distâncias consideráveis, o alcance desta lente é pura e simplesmente prodigioso. Aquela qualidade a que os britânicos chamam sharpness, cuja tradução não logra interpretar o seu significado, está presente nas imagens de um modo absolutamente admirável. Deve dizer-se, contudo, que, talvez pelos valores máximos da abertura serem reduzidos, não é fácil obter imagens nítidas: tal como notara com a 28mm, o curso do anel de focagem ao longo da qual a imagem se mantém nítida é extremamente reduzido - ao contrário do que acontece com a 50mm, com a sua abertura máxima de f1.4. Nada se compara a fotografar com aberturas abaixo de 3.5...
O problema com as zoom é que estas lentes estabelecem muitos compromissos: troca-se nitidez por alcance, e este por luminosidade. Contudo, a Vivitar 75-300 parece ter conseguido atingir compromissos muito aceitáveis. E, se formos a pensar bem, f5,6 a 600mm (equivalentes) não é muito mau - sobretudo se compararmos com os f6,3 a 100mm da nova Olympus 12-50.
Outra qualidade impressionante é a profundidade de campo. Com a Vivitar é possível obter um grau de abstracção incrível: os fundos desaparecem, substituídos por manchas aveludadas de cor. É um bokeh suave, sem a interferência de detalhes que concorram com o objecto para atrair a atenção do olhar. Não seria de esperar outros resultados, sabendo que a profundidade de campo varia na proporção inversa da distância focal, mas ainda assim os resultados são impressionantes.
Enfim, parece que fiz um bom negócio. Os corvos-marinhos e as garças estão à espera, ali a meio quilómetro de casa...

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