Hoje fui ver mais uma exposição ao Centro Português de Fotografia, mas não era uma exposição qualquer. Era do fotojornalista João Silva.
Este fotógrafo de nacionalidade sul-africana e portuguesa era membro do The Bang Bang Club, juntamente com Kevin Carter. A fotografia deste grupo era intervencionista: todos estavam convictos que as suas fotografias serviam um propósito, fosse denunciar a desumanidade do apartheid ou a fome no Sudão. E todos eles eram grandes fotógrafos. Em reportagem no Afeganistão, ao serviço do The New York Times, João Silva teve um acidente que o fez perder as duas pernas. Nem este infortúnio o fez perder o amor pela fotografia: munido de próteses, procurou recuperar o andar e voltou a fotografar. Porque a fotografia é assim mesmo: algo que nos faz mover para além do que julgávamos possível.
As fotografias expostas não mostravam apenas o lado intervencionista da fotografia de João Silva. O que vi no Centro Português de Fotografia foi imagens maravilhosamente compostas, mesmo quando os objectos eram tão exigentes como um disparo de bazooka. Trabalhos de composição, note-se bem, muitas vezes obtidos sob as condições mais exigentes - por vezes debaixo de fogo, outras vezes em circunstâncias em que mal se tem tempo para disparar o botão do obturador. Só um grande fotógrafo pode fazer fotografias como aquelas. Outro aspecto excelente da fotografia de João Silva é a cor. A cor é um elemento dominante nas imagens do Afeganistão que estão expostas no CPF. Cores vibrantes, magnificamente combinadas. Acima de tudo, a fotografia de João Silva é um relato visual da condição humana - daquela condição que André Malraux tão bem descreveu num dos melhores livros jamais escritos. A riqueza da forma é ultrapassada, na fotografia de João Silva, pela profundeza do conteúdo.
Saí do CPF com vontade de voltar e rever outra e mais outra vez aquelas fotografias extraordinárias - mas também com o sentimento de revolta por aquela guerra estúpida e inútil ter limitado a carreira de um dos melhores fotógrafos do mundo. Não deixem que estas fotografias vos passem ao lado: vão ver esta exposição.
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