Pode o leitor eventual deste blogue - entendendo-se por «leitor eventual» aquele que vem aqui, não para sacar imagens, mas para colher informação - interrogar-se como é que se obtêm imagens como a de cima; pois bem, é fácil e não requer conhecimentos especiais.
A profundidade de campo (já sabemos que a profundidade de campo é a distância ao longo da qual a imagem se mantém nítida) depende de três factores, que analisaremos de modo sistemático:
- A abertura;
- A distância entre a câmara e o objecto;
- A distância entre o objecto e o plano de fundo.
Para se obter um fundo tão desfocado como o que se vê nesta fotografia, tirada a um banco de um dos cais de embarque da Estação de S. Bento (Porto) aquando de uma saída de campo do workshop do Instituto Português de Fotografia que frequentei, é necessário, antes de mais, seleccionar uma abertura ampla. Neste caso, usei uma abertura de f2, a despeito de a lente que usei permitir uma abertura de f 1.4. Não usei a lente wide open porque a abertura máxima tende a criar imagens demasiado sobre-expostas que resultam em cores mortiças e planas. Contudo, pode ter-se por regra que quanto maior for a abertura, menor é a profundidade de campo.
Em segundo lugar, pode dizer-se que a profundidade de campo é tão mais reduzida quanto menor for a distância entre o plano focal (definido pela posição da câmara) e o objecto que se pretende fotografar. Todas as lentes têm uma distância mínima de focagem e uma distância máxima (normalmente o infinito, definido pelo símbolo ∞), descritas algures no seu corpo, em regra na base, perto da baioneta. A distância mínima, que é a que nos interessa neste caso, depende da distância focal; quanto menor esta for, menor será também o plano focal possível. Uma grande-angular de 35mm permitirá uma distância de 25 a 30 cm em relação ao objecto, ao passo que uma lente standard de 80mm requererá uma distância entre os 70 e os 80 cm. As teleobjectivas podem exigir distâncias de vários metros. Fotografar a distâncias menores que as mínimas produz desfocagem do primeiro plano, o que é visível na fotografia acima, na qual a extremidade do banco surge desfocada (o ponto que escolhi para focar foi o motivo de ferro fundido sob as ripas de madeira, que surge perfeitamente focado). Não é proibido focar abaixo da distância mínima; pelo contrário, por vezes a desfocagem obtida pode criar efeitos interessantes, mas convém ter em mente que demasiada proximidade produz desfocagem do primeiro plano.
Por outras palavras: para obter o efeito desfocado, é necessário aproximar a câmara do motivo tanto quanto for possível; quanto mais próxima a câmara estiver, menor será a profundidade de campo.
Finalmente, esta técnica de redução da profundidade de campo só resulta se o motivo estiver afastado do plano de fundo. Se fotografarmos uma flor que tenha folhagem imediatamente atrás, esta folhagem vai surgir nítida na imagem. É necessário, deste modo, que o motivo esteja isolado do plano de fundo. Aliás, o que se pretende, com esta técnica, é isolar um motivo do fundo; para que a atenção de quem vê a imagem se concentre no motivo, pode ser necessário que os objectos do plano de fundo não compitam com aquele para atrair a atenção do olhar. Quanto mais distante for o plano de fundo, mais desfocado este surgirá na imagem.
Note-se, contudo, que o que descrevi refere-se a lentes comuns; nas lentes macro a profundidade de campo é reduzida por natureza - apenas uma área muito diminuta da imagem surge em foco. Convém também ter em mente que nem todas as lentes «normais» produzem um esbatimento perfeito do fundo. O que se pretende, com esta técnica, é obter fundos suaves, e as lentes de pequena distância focal falham neste particular, apresentando imagens de fundo que, embora desfocadas, são demasiado nítidas para isolar o objecto a fotografar. O mesmo se diga de lentes que, embora tenham grandes distâncias focais, apenas permitem aberturas demasiado estreitas.
E pronto - nada como começar o ano partilhando um naco de sabedoria...
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