Não tenho por regra escrever sobre questões tecnológicas, por duas razões. A primeira é que elas só são importantes se contribuírem para uma melhoria na qualidade da imagem; a segunda é a minha falta de aptidão - os meus saberes estão no campo das humanidades, não das ciências. O que não significa que as tecnologias sejam de menosprezar.
Na terça-feira o Digital Photography Review publicou uma análise crítica de uma câmara cheia de singularidades: a Sigma SD1. Entre outras particularidades e idiossincrasias que a distinguem, esta câmara tem um sensor de uma tecnologia que me parece extremamente interessante: o sensor Foveon. As explicações sobre este captor de luz podem ser lidas com mais precisão aqui, mas pelo que entendi o Foveon, ao contrário dos sensores Bayer comuns a quase todas as câmaras (a Fujifilm tem um sensor inovador na X-Pro 1, mas baseia-se no sistema Bayer), que dispõem os pixéis numa única camada, sendo a luz filtrada e dividida para que apenas alguns pixéís «leiam» cada uma das cores primárias, o sensor da Sigma SD1 tem três camadas, dispostas com base na capacidade de penetração da luz no silicone, correspondendo cada uma às cores vermelha, verde e azul. Daí que a Foveon, companhia que inicialmente desenvolveu esta tecnologia (o sensor da SD1 difere do original por ser maior, com a área de um APS-C), denomine esta tecnologia «X3». Este sensor, por ter três camadas - uma para cada cor
primária, como vimos -, tem uma resolução de 15 MP X 3 (15 MP por cada
camada), o que resulta numa resolução teórica de 45 MP, mas a sua
resolução potencial é de 30 MP. O que já é um número impressionante, convenhamos.
Este sensor Foveon tem ainda a singularidade de dispensar o filtro anti-moiré, ou antialiasing: os sensores Bayer, para evitar a aberração conhecida por moiré, usam um filtro que introduz uma suavização artificial da imagem de maneira a que a aberração não se note, mas esta filtragem, como parece evidente, reduz a resolução.

Simplesmente, quando se abstrai destas desvantagens - se é que realmente o são -, o que fica é, pura e simplesmente, a melhor resolução de todas as câmaras do seu segmento. As imagens obtidas com a Sigma SD1, especialmente em raw, são de cortar a respiração. Imagens de texturas finas, que são o pesadelo de qualquer sensor Bayer por causa do moiré, surgem com uma definição absolutamente impressionante, e a quantidade e qualidade dos pormenores subtis captados é espantosa.
E, se a resolução é fantástica, é na apresentação das cores que a Sigma brilha mais intensamente: as imagens comparativas mostram cores que, inicialmente, parecem severamente dessaturadas, ou mesmo mortiças; quando observamos com atenção, porém, e comparamos as imagens com as das suas rivais, vemos que estas últimas é que estão erradas. Com efeito, as cores da SD1 são neutras, e não mortiças. São cores absolutamente precisas. As outras câmaras produzem cores que, em comparação com a SD1, parecem artificiais, excessivamente saturadas e com uma ausência completa de naturalidade. As outras câmaras são concebidas para agradar numa apreciação superficial e imediata; a Sigma SD1 conta a verdade acerca das cores. Não é uma câmara para agradar às multidões, mas a um número relativamente restrito de puristas que procuram a maior qualidade e fidelidade possíveis numa câmara digital - mesmo com o sacrifício de alguns adereços que a procura impôs ao mercado fotográfico, como o vídeo.
Se estou a escrever este artigo é por estar inteiramente convicto que esta tecnologia é uma enorme evolução na qualidade da imagem. Esta câmara não é para os tarados do ISO que se babam sobre o teclado quando lêem que uma câmara é capaz de sensibilidades da ordem das centenas de milhares, mas é excelente para quem procura a maior qualidade da imagem possível. A neutralidade das cores facilita o trabalho de edição das imagens, porque é mais fácil saturá-las que o inverso; contudo, ver as imagens produzidas por esta câmara (aqui) demonstra que a precisão das cores produz resultados imensamente satisfatórios, mesmo sem qualquer trabalho de pós-produção. E a resolução, com a total ausência de aberrações, tem o potencial de criar imagens de um realismo que não está ao alcance da tecnologia Bayer. O futuro da fotografia digital pode muito bem passar por aqui.
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