Por vezes o fotógrafo iniciado pode ser acometido de grande perplexidade diante do jargão fotográfico. Já nem falo do facto de, para efeitos de equilíbrio dos brancos, o vermelho ser uma cor fria e o azul pálido uma cor quente, ou de a abertura maior ser referenciada por um número menor do que uma abertura estreita - porque estas aparentes incongruências têm uma explicação. A perplexidade manifestar-se-á quando lêem ou ouvem falar de lentes rápidas. Como é que uma lente pode ser considerada rápida? O que é isso de uma lente rápida?
Uma lente rápida é uma lente com um bom valor de abertura máxima (que, como sabemos, é representada por um número f baixo). Uma lente 1.4 é mais rápida que uma lente 2.0 e esta é mais rápida que uma lente 3.5. O facto de se referir certas lentes como rápidas, lentas ou assim-assim tem que ver com o facto de uma lente capaz de grandes aberturas permitir o uso de velocidades do obturador bastante altas. Ainda ontem me referi à relação de reciprocidade entre a abertura e a velocidade do obturador: quanto mais baixa for a primeira, mais elevada pode ser a outra. Com uma lente na abertura f1.4 é possível obter velocidades de disparo da ordem dos 1/1000 sob céu nublado. É isto que se entende por rapidez da lente.
Voigtländer Nokton 25mm: abertura máxima de f0.9! |
Há lentes que, pela sua natureza, são mais lentas que outras: os zooms, especialmente os de grandes distância focal, pertencem a esta categoria. Tecnicamente, é possível fabricar zooms rápidos, mas são de tal maneira caros que a sua aquisição se torna proibitiva. E são grandes e pesados, pelo que uma das grandes vantagens das lentes rápidas - dispensar o tripé - desaparece por completo. Daqui resulta que a maioria dos zoom disponíveis tenha aberturas máximas que podem ser consideradas medíocres, da ordem dos f4 ou f4.5.
Hoje há uma verdadeira mania das lentes rápidas, e o valor da abertura máxima é usado como argumento de venda por muitos fabricantes. A rapidez, contudo, é apenas uma das qualidades de uma lente. Há lentes que, não sendo tão rápidas, são contudo excelentes, não devendo ser ignoradas. Um exemplo que posso dar é o da OM 28mm/f3.5: esta lente tem uma nitidez e uma apresentação das cores de tal ordem que se torna fácil esquecer que a sua abertura máxima é apenas f3.5. Não é uma lente diminuída por ser menos rápida que outras. Tudo depende da utilização que se lhe quiser dar: esta não é a lente que uso quando quero diminuir a profundidade de campo - é uma grande-angular, embora se comporte como uma standard montada na minha câmara, e as grande-angulares são concebidas para manter todos os planos focados -, nem é a ideal para fotografar com pouca luz - mas, dentro da sua gama de utilização, é uma objectiva absolutamente excepcional. Nem sequer a posso comparar com a minha outra OM, a rapidíssima 50mm/f1.4, porque a utilização que dou a ambas é completamente diferente.
Nada disto contradiz o facto de a rapidez ser uma característica desejável numa lente. Apenas reitero que a rapidez não é a única qualidade a procurar quando se escolhe uma objectiva. Há lentes, como as SLR Magic e as Lensbaby Toy Lens, que têm aberturas enormes, mas têm tão pouca nitidez que não chegam a ser mais do que a denominação deste último modelo sugere: brinquedos. Uma OM com uma abertura máxima de f3.5 ou f4 é infinitamente melhor. A minha recomendação é que se use o critério da velocidade com um grão de sal e não se use como factor exclusivo de escolha de uma objectiva - embora, repito, seja uma característica que se deve procurar.
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