Hoje estive em casa de Fernando Aroso, um fotógrafo profissional que conheci há dois anos. Mostrei-lhe as minhas fotografias impressas e, felizmente, obtive opiniões favoráveis - especialmente quanto à do manequim da Rua Miguel Bombarda.
Depois estive a ver as fotografias dele; fotografias da cidade do Porto, em concreto da Foz e da Ribeira. Fiquei sem palavras, como alguém a quem fosse revelado o Grande Segredo da Vida. Fotografias belíssimas, que retratam paisagens que todos nós já vimos e muitos já fotografaram - mas nunca como o fez Fernando Aroso. Aquelas fotografias tinham alma. Algumas podiam ter ruído (ou grão, as do tempo do analógico), podiam estar inclinadas ou mesmo um pouco desfocadas - mas captavam a essência, o modo de ser da cidade do Porto. Fotografias que causam emoções, que vão ao nosso interior e nos despertam emoções e nos fazem identificarmo-nos com o espírito da cidade de uma maneira que só é acessível aos portuenses ou àqueles que, não o sendo, se apaixonam pela cidade ao ponto de a escolherem para nela viver. Ao pé daquelas fotografias, as minhas - mesmo aquelas em que estive tecnicamente próximo da perfeição - pareciam meramente documentais, sem vida, sem alma, frias e sem interesse.
Esta visita foi uma lição. Aprendi que fui longe demais na minha preocupação com a técnica. A técnica não é o mais importante; o que conta, na fotografia, é ter a capacidade de captar momentos únicos e irrepetíveis e fazê-lo conferindo expressão às imagens. Porque a fotografia é uma arte, e a arte é expressão de algo por modos que a sensibilidade, mais que o intelecto, compreende.
Aprendi também algo que já sabia, mas que sempre me recusei a reconhecer: a fotografia digital não tem alma. Pode ganhá-la pelos motivos ou por certas escolhas do fotógrafo, mas a analógica é mais calorosa, mais humana. Ainda não é isto que me vai fazer correr para comprar uma Olympus OM-2, mas a verdade é que nós, as pessoas, somos imperfeitos, e a fotografia digital persegue a perfeição. Pretender alcançar a perfeição - o recorte das figuras, o pormenor, a limpeza de uma imagem - é um disparate (em que eu me preparava para incorrer). A fotografia digital, quando comparada com a analógica, é fria, tal como o som de um CD em comparação com um bom vinil tocado num gira-discos decente.
Por tudo isto, o meu conselho - o conselho n.º 1, a mãe de todos os conselhos - é este: quando fotografarem, impregnem as vossas fotografias de alma. Procurem que ela exprima algo: um sentir, uma emoção. Claro que a técnica é importante para se conseguir exprimir seja o que for com a fotografia, mas, uma vez dominada, deixem que seja a emoção, e não a razão, a comandar as vossas escolhas. Procurem que a fotografia exprima a emoção que vos percorre ao ver determinada cena, seja ela uma paisagem, um grupo de pessoas ou um simples edifício. Lembrem-se que quem vê uma fotografia não quer saber do ISO, do equilíbrio dos brancos, da medição nem de nenhuma dessas coisas que só são importantes no sentido em que nos ajudam a conferir expressão à imagem; quem vê uma fotografia quer ficar impressionado com ela por ser única e lhes transmitir algo. Tentem encher a vossa fotografia de sentido, porque a fotografia tem de ter um conteúdo; não pode ser só forma.
Nunca se esqueçam disto!
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