É mais fácil do que parece à primeira vista... |
Não é de surpreender que eu seja capaz de pegar num maquinão e descobrir como se fazem fotos com ele sem necessidade de consultar o manual: é que todas as câmaras evoluídas funcionam de modo igual, com os mesmos comandos e segundo os mesmos princípios, que se mantêm essencialmente inalterados desde a criação das primeiras máquinas. O necessário é compreender o seu funcionamento. As câmaras captam luz; o mero facto de se compreender isto é já um começo para entender como funciona uma DSLR (ou qualquer outra câmara evoluída, seja ela uma mirrorless ou uma Leica M9). É ao fotógrafo, e não à câmara, que compete determinar qual a quantidade de luz que vai penetrar através da lente e ser capturada pelo sensor. Esta quantidade denomina-se exposição. Compreender a exposição é essencial para entender a câmara.
E não é assim tão difícil entender a exposição. Ela depende - esquecendo, por agora, o ISO, que deve ser sempre mantido tão baixo quanto possível, desactivando o seu funcionamento automático - de dois factores: a abertura, que determina a capacidade da lente para captar luz, e a velocidade do obturador - que é o tempo durante o qual a câmara vai absorver a luz. (A luz entra pela objectiva, razão pela qual é tão importante remover a tampa desta antes de começar a fotografar...) A abertura e a velocidade do obturador funcionam entre si numa relação de reciprocidade: a uma maior abertura deve corresponder uma maior velocidade do obturador, e vice-versa, para manter a exposição correcta. Exemplificando: a uma abertura de f2.8 corresponderá, digamos - dadas certas condições de luz -, uma velocidade de disparo de 1/640; se diminuirmos a abertura para f8 sob a mesma luz, a velocidade do disparo terá de ser baixada para 1/100; e, se usarmos f16, a velocidade deverá ser reduzida para 1/30 - tudo isto para manter a mesma exposição. Não é necessário ter o tipo de conhecimento dos fotógrafos da era da fotografia analógica pré-medição para dominar a exposição: as DSLR têm a gentileza de nos mostrar um indicador de exposição, que pode ser visto na base do visor (igual ao da imagem acima, no lado esquerdo). A exposição ideal dá-se quando o ponteiro desse indicador está no zero, que é como quem diz no meio da régua. Se o ponteiro estiver para a esquerda, a imagem está sub-exposta: vai ficar escura. Se estiver para a direita, a imagem ficará sobre-exposta, o que é o mesmo que dizer com luz a mais. Isto tem implicações na qualidade e apresentação da imagem: numa fotografia sub-exposta, os pormenores ficarão escondidos nas zonas de sombra. Inversamente, a imagem sobre-exposta vai ocultar os detalhes debaixo de uma claridade que não é natural, e vai dessaturar as cores e provocar perda de definição.
É estupidamente simples controlar a exposição. Tomemos o exemplo de uma Nikon D7000, que, não sendo uma câmara profissional, já é bastante evoluída em relação a uma câmara de acesso: no modo M (controlo manual da exposição), roda-se o comando circular situado no punho, logo abaixo do botão do disparo, para regular a abertura, e um comando idêntico existente na parte superior direita do painel traseiro para controlar a velocidade do disparo. Depois é só rodar um e outro até o ponteiro do mostrador da exposição ficar no zero. Não consigo encontrar uma forma mais simples de descrever isto. Claro que há muitas variáveis possíveis, dependendo da intenção do fotógrafo: se este quer uma profundidade de campo menor, por ex. para desfocar o segundo plano, usa uma abertura grande (a que corresponde um número f pequeno), o que aumenta a velocidade do obturador; se quer provocar um efeito de arrastamento, usa uma velocidade do obturador diminuta, estreitando a abertura. Sejam quais forem as circunstâncias, o mostrador da exposição está ali com um propósito: o de não o deixar fazer fotografias com uma exposição deficiente. Não sei o que isto tem de complicado.
No entanto, há quem se deixe intimidar pela aparente complexidade de uma câmara reflex. Tenho um amigo que comprou uma Canon 1000D e praticamente deixou de fotografar por pensar que é demasiado complicada. E, quando fotografa, fá-lo no modo automático, o que equivale a participar numa corrida de ciclismo com uma bicicleta equipada com aquelas rodinhas auxiliares das biclas dos miúdos. E, contudo, basta rodar dois simples botõezinhos e observar o movimento de um ponteiro para começar a fotografar correctamente nos modos de exposição avançados. E quase me esquecia de referir que o que escrevi até agora diz respeito ao modo de exposição manual, mas a dificuldade (que, como vimos, não é nenhuma) de controlar a exposição pode ser reduzida para metade se forem usados os modos A ou S (Av ou Tv nas Canon e Pentax), casos em que a câmara se encarrega de escolher, respectivamente, a velocidade do obturador ou a abertura mais apropriados. Ambas são úteis para situações especiais: certos resultados dependem de uma dada abertura ou de velocidades de disparo diferentes das normais. O congelamento e o arrastamento requerem velocidades altas ou baixas, respectivamente; a focagem selectiva exige aberturas grandes. Mas isto já é para fotografadores mais experimentados: o que importa, para já, é familiarizar-se com a DSLR e com a maneira como esta funciona.
2 comentários:
eu uso sempre em todas as camaras a prioridade a abertura...pessoalmente nao vejo muito interesse no modo Mpq o Av no fundo a conta do recado sem ter de resolver a velocidade.
blog porreiro sim senhor!
grouchomarx
Obrigado, Groucho. Faz-se os possíveis para ter um blogue interessante para quem o lê. Há tão poucos, cá no rectângulo...
Eu uso maioritariamente o modo M, mas quando faço fotografia de rua prefiro o A. Assim diminuo a possibilidade de perder uma oportunidade de fotografar por entretanto estar a escolher a velocidade do disparo.
Enviar um comentário