terça-feira, 1 de maio de 2012

Fotografar a preto-e-branco

Quando comprei a minha primeira câmara, uma das coisas de que me certifiquei - apesar de não ter então qualquer conhecimento de fotografia - era que ela tinha a opção de fotografar a preto-e-branco. Mesmo nessa fase de completo desconhecimento da fotografia e das técnicas fotográficas, fazia questão de poder fotografar a preto-e-branco. As razões da minha predilecção monocromática - pelo menos aquelas que estão no domínio da racionalidade, porque há outras, subjectivas, que não se podem quantificar ou descrever pela lógica - já as descrevi aqui; há outras, como desde logo o facto de praticamente todas as minhas referências serem fotógrafos que fotografaram a preto-e-branco. A fotografia a cores não matou o preto-e-branco, nem a fotografia digital o conseguiu; o preto-e-branco será sempre uma forma de expressão fotográfica por excelência, seja por mostrar as formas e os contrastes, seja pelo ambiente noir que cria.
No workshop que frequentei em Novembro passado, ensinaram-me que as fotografias devem ser feitas a cores, e só na edição ser passadas para preto-e-branco. Contrapus que obtinha melhores resultados quando configurava a câmara para preto-e-branco. Só depois de raciocinar um pouco compreendi por que havia chegado a esta conclusão: é que eu fotografo quase exclusivamente olhando o ecrã, e não através de um visor. O ecrã, independentemente de não ser o meio mais conveniente para visualizar os enquadramentos, tem uma vantagem: vejo as cenas tal e qual vão surgir na imagem. Se configurar a câmara para preto-e-branco, vou ver a cena a preto-e-branco. O que me permite ter uma noção muito precisa da maneira como a fotografia vai aparecer: se vir a preto-e-branco, é muito mais fácil fazer com que a fotografia funcione porque posso fazer escolhas em função dos tons e das formas. Claro que um fotógrafo experimentado terá uma noção de como a fotografia vai resultar em preto-e-branco, mesmo fotografando através de um visor óptico - mas eu não sou um fotógrafo experimentado, daí que tenha ficado a pensar se estava a proceder bem.
Há uma boa razão para o ensinamento que foi ministrado no workshop: a qualidade do resultado final, depois da edição da imagem. Ao fotografar a cores - e de preferência em formato raw - conserva-se a paleta tonal na íntegra, bem como a gama dinâmica e a resolução da imagem. Aliás, quando se fotografa em raw, configurar a câmara para preto-e-branco é uma futilidade porque a imagem vai surgir a cores no programa de edição, por isso why bother?
Note-se que não é por causa das cores, mas por causa das tonalidades, que se deve configurar a câmara para fotografar a cores quando se quer fotografar a preto-e-branco. É que muitas destas tonalidades se perdem quando se configura a câmara para trabalhar em preto-e-branco. Basta comparar o nível de resolução de um ficheiro JPEG a preto-e-branco tal como sai da câmara, que não chega aos 2 MB, com um ficheiro a cores. Ter a totalidade das tonalidades é útil, porque a imagem a preto-e-branco não é uma escala de cinzas: os cinzentos são compostos por uma diversidade de tons: vermelho, amarelo, laranja, verde, azul, púrpura e magenta. E estes tons têm de ser definidos na edição se quisermos que a fotografia corresponda à nossa intenção, porque as fotografias que a câmara processa têm, normalmente, uma tonalidade acastanhada que nem sempre será aquela que queremos. E, ao trabalhar deste modo, temos sempre a possibilidade de apresentar uma fotografia a cores decente, no caso de ela não resultar bem a preto-e-branco...

1 comentário:

Jose Antunes disse...

Boas Manuel Macedo

fotografar a p/b ou cores com filme era assim por uma limitação tecnológica e pronto. Com o digital, de facto, faz sentido fotografar a cores, até por ao usar-se RAW - o que é uma boa razão mais para usar o formato - se manter toda a paleta tonal de um potencial preto e branco. Mesmo usando JPEGs faz sentiudo trabalhar a cores e depois fazer a conversão. No LR tem um mundo de possibilidades de transformação em p/b.

Portanto, os seus professores tinham razão. E nós vemos o mundo a cores, mesmo quando se fotografa a preto e branco.

Agora se quiser usar a vantagem do p/b numa câmara digital, pode fazer isso mesmo, por uma questão de visualizar (mais o menos) o resultado final, sabendo que, ao usar RAW, está na mesma a manter todas as cores do original. Nesse sentido o digital dá-lhe mais liberdade.

Tudo isto só para lhe desejar uma boa aventura nestas incursões a que tem votado a sua exploração fotográfica. É divertido ver, deste lado, a sua curiosidade incessante pela exploração. Não a perca!

abc

Jose Antunes