As opiniões que exprimi neste blogue acerca daquilo a que, de uma maneira geral, se denomina por «Photoshop», podem ter levado muitos leitores a pensar que eu sou preconceituoso, teimoso, ou que, de alguma maneira, me recuso a encarar a realidade dos nossos dias. Deixem-me, pois, explicar-me um pouco melhor - mesmo se já o fiz num texto anterior.
Antes do mais, devo reconhecer que fui vítima de alguma confusão, a qual transmiti aos leitores deste blogue. Confesso-o com a naturalidade de quem está apenas no começo de uma aprendizagem. Sempre que mencionei o Photoshop nos textos mais antigos, aquilo a que me queria realmente referir era o Adobe Photoshop Creative Suite, ou «Cs». Este é um programa de que um fotógrafo não tem verdadeira necessidade - mas, se sente a compulsão de o usar, tudo bem, desde que não torne a fotografia inverosímil. Há intenção artística na criação de uma imagem abstracta, e o Cs pode originar imagens extremamente válidas - como esta, do fotógrafo australiano (e meu amigo no flickr) Eric Imbs. (Eric usa uma Olympus E-P2 e lentes antigas de focagem manual, como algumas Leitz-Wetzlar e Pentax/Takumar.)
Os meus problemas com o Cs começam apenas quando se tenta disfarçar a falta de expressão artística e (ou) de domínio da técnica fotográfica através da manipulação que este programa permite. O caminho fotográfico é algo que cada qual encontra por si (e dificilmente haverá duas opiniões idênticas nesta matéria), mas começa no olhar - na maneira de vermos as coisas -, prossegue com a captura da imagem e termina com a edição. Esta é a ordem que me parece lógica, mas muitos utilizadores do Cs invertem-na, tomando a fotografia por um mero objecto de um trabalho de manipulação. Há fotografias (e eu já dei dois exemplos num texto anterior) que são completamente inverosímeis, chegando a transpor o limite do absurdo: uma coisa é uma imagem abstracta, em que a criatividade é o único limite; outra coisa é uma fotografia de algo real que contém incongruências ou inverosimilhanças. Se queremos fotografias de objectos reais, devemos procurar boas perspectivas, boas exposições, bons enquadramentos; adicionar camadas, como muitos fazem, é algo que falseia a realidade; é também algo que está para lá da fotografia, pertencendo ao domínio das artes gráficas. Uma fotografia mal feita ou banal é sempre uma fotografia mal feita ou banal, de nada adiantando colocar camadas de nuvens carregadas ou de estrelas. Não se pode polir uma bosta!
Não tenho qualquer dúvida, porém sobre a utilidade do Cs para trabalhos gráficos. Digo-o com a autoridade de quem tem uma desktop publisher na família, que o usa como ferramenta de trabalho. Não há nenhuma fotografia publicitária de automóveis que não seja feita sobrepondo a camada com a imagem do carro sobre um fundo, mas mesmo na fotografia publicitária já há uma corrente que começa a questionar o recurso ao Photoshop - ou melhor: ao Cs. Este movimento nasce, sem dúvida, da consciência de que se caiu no excesso e no abuso em detrimento da fotografia - i. e. daquilo que acontece antes da edição de imagem.
Sempre houve manipulação da imagem. Seria absurdo pretender manter uma pureza de princípios num campo onde estes nunca existiram. Mesmo no tempo da fotografia analógica havia técnicas e instrumentos para estourar altas luzes e manter ou criar sombras na fotografia durante a revelação. A manipulação não é, em si, um pecado cardeal: o que é vicioso é pensar-se que se consegue ser um grande fotógrafo sem ter uma ideia fotográfica ou sem saber exprimi-la pela técnica, e imaginar que o Cs vai compensar estas falhas.
Permito-me, por tudo isto, questionar a utilidade do Cs para quem faz fotografia, mas o Lr é diferente. Nunca ninguém leu aqui que as minhas fotografias são tal qual como saíram da câmara para o computador - embora deva dizer que algumas, poucas, até o são, o que abona muito em favor da E-P1 -, porque, se o fizesse, teria mentido. Eu retoco as imagens, e por vezes muito intensamente. Já o fazia quando tinha a compacta - embora o software de edição fosse tremendamente rudimentar -, fi-lo com o Olympus Master 2 e com o muito mais sofisticado Viewer 2. São raríssimas as fotografias que me agradam tal como estão, quando as abro no computador (embora sejam as de que mais me orgulho), pelo que há sempre algo a melhorar: o contraste, a nitidez, a saturação, etc. E, com o uso de ficheiros raw, é impossível converter uma fotografia em JPEG sem um mínimo de retoque. O que o Lr - que é um membro da família Photoshop, como o Cs e o Elements - me dá é muito maior versatilidade que o Olympus Viewer 2. Esta versatilidade permite-me algo que o Viewer não era capaz: tornar a imagem naquilo que havia imaginado quando vi o objecto fotografado e idealizei a composição e o enquadramento fotográficos. Não é manipulação, não está para lá da fotografia: pelo contrário, é um retorno ao conceito original, à ideia que esteve na origem da fotografia. É, como referi antes, um instrumento que estende o controlo do iter fotográfico ao processamento da imagem, e este controlo é o que me ajuda a fazer da fotografia exactamente aquilo que tinha na minha mente quando vi o objecto antes de o fotografar. Auxilia, deste modo, a conferir expressão à fotografia e a devolvê-la à intenção original - e fá-lo de uma maneira que o Viewer 2, por muito mérito que tenha enquanto software de distribuição gratuita, não é capaz. Com o Lr4 tenho o controlo absoluto sobre a qualidade da imagem, e uso-o para melhorar as minhas fotografias (e não para as transformar).
Dixit.
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