domingo, 8 de abril de 2012

Páscoa

A Páscoa, em especial a Sexta-Feira Santa, é possivelmente a única época do ano em que me deixo envolver pelo verdadeiro espírito da época. Não sou religioso, mas nesta altura do ano deixo-me envolver pela sacralidade tão própria de um país maioritariamente católico. De súbito, a religião parece fazer sentido, e os seus símbolos e manifestações adquirem significado. É uma altura em que me apetece ouvir música como o Stabat Mater de Giovanni Battista Pergolesi ou o Te Deum de Anton Bruckner (já ver o Ben-Hur na televisão me parece um pouco excessivo).
Esta Sexta-Feira (Santa) aconteceu-me, deu-se o acaso de, estar durante a tarde no Largo do Colégio, no Porto, onde fica a Igreja de S. Lourenço (também dita «dos Grilos»), que é também o Museu de Arte Sacra do Porto. Devo dizer que tenho uma relação já longa com este museu, onde já organizei três concertos, dois de Páscoa e um de Natal, para a Federação das Colectividades do Distrito do Porto, à qual pertenço (sou vice-presidente da direcção). Tinha comigo a câmara, juntamente com a minha lente preferida quando quero fotografar cenas da cidade que não sejam fotografia de rua - a OM 28mm/f3.5. Decidi entrar e fotografar. Não foi a primeira vez que fotografei o interior da Igreja de S. Lourenço, mas nunca tinha tido oportunidade de encontrar uma exposição de arte sacra, nem tinha usado uma lente de focagem manual lá dentro. Como a luz era escassa, tive de subir a sensibilidade para 400 ISO, o que prejudicou algumas fotografias, mas ao menos não as destruiu.
Não posso, de maneira nenhuma, dizer que sou um apreciador da arte sacra, mas como estava envolto neste espírito pascal, penso que este se nota nas fotografias que fiz. São imagens - as obras de arte sacra, não as fotografias - plangentes, dolorosas, carregadas de sofrimento e consternação e com uma expressão que, pretendendo ser realística, evoca a Idade Média, imagens que me fizeram lembrar que o catolicismo não serve para propagar o amor pelo próximo, como deveria, mas o medo - ainda que sob a forma mitigada de temor - e a sujeição. Não quero tergiversar, nem expor os fundamentos do meu agnosticismo, mas creio que as fotografias que fiz, embora não sejam nada de espectacular, transmitem um pouco do espírito a que me referi antes.
As fotografias, que podem ser vistas no Flickr com alta qualidade e sem os textos, são JPEGs feitos a partir de ficheiros raw. Resolvi dar-lhes mais uma oportunidade para se mostrarem capazes de gerar imagens superiores às processadas pela própria câmara, mas não posso dizer que exista uma diferença que me faça mudar de opinião. Mas esta não é altura de discutir tecnicismos.

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