Vimos, no texto anterior, que a escolha das lentes requer muita ponderação. Comprar lentes com base em critérios como o baixo preço, ou a existência de um intervalo grande entre distâncias focais, são erros primários que podem sair caros ou redundar na posse de uma lente que não serve para nada.
Há duas formas de não errar na compra de lentes. Uma é a aquisição de zooms de grande qualidade, como vimos no texto anterior. Sai caro - mas uma lente, ao contrário do corpo, é para a vida, e não para deitar fora quando chegar aos cem mil ou cento e quarenta mil disparos. Vale a pena partir o porquinho-mealheiro, como dizem os britânicos. Desde, claro está, que saibamos quais as distâncias focais de que realmente necessitamos.
A outra maneira de não cometer erros é apostar em boas lentes de distância focal fixa - as chamadas primes. Se eu soubesse o que sei hoje, só teria primes. Com elas, fotografar é, não apenas mais fácil (a focagem é muito menos problemática que com zooms), mas sobretudo mais divertido. Têm apenas a desvantagem de ser menos versáteis: com uma prime, a maneira de ampliar ou reduzir o tamanho de um objecto no enquadramento é aproximar-me ou afastar-me dele, o que é menos prático do que rodar um anel na lente - mas vale a pena. As primes não têm mecanismos complicados para além dos de focagem, e podem ser facilmente optimizadas para correcção das aberrações ópticas e, sobretudo, para grandes aberturas. Não conheço nenhum zoom capaz de f1.4; em contrapartida, há primes que chegam a f0.8!
Nunca é demais realçar a importância de uma boa abertura. Ela permite fotografar em condições de luz menos-que-óptimas sem flash e sem puxar pelo ISO, mas sobretudo ajuda a diminuir a profundidade de campo, característica essencial quando queremos obter aqueles planos de fundo diluídos que alguns fotógrafos perseguem como se fosse o Santo Graal (e eu sou um deles...) As boas primes podem ser muito caras, mas há diversas excepções a esta regra.
Uma delas é a existência de lentes de distância focal fixa baratas, mas capazes de imagens de altíssima qualidade. A Canon faz uma (a que já me referi por diversas vezes) que, exteriormente, é uma porcaria feita de plástico barato - mas diz quem sabe que, no que verdadeiramente conta - a qualidade da imagem - é uma pérola genuína: a EF 50/f1.8 II. E a Nikon tem uma equivalente - pobre Nikon, para sempre condenada a correr atrás da Canon... -, existindo ainda outras lentes das mesmas famílias noutras distâncias focais. E há outras primes baratas de qualidade mais que satisfatória: até a minha Pancake 17mm/f2.8 é uma lente respeitável. A sua qualidade suscitou-me sempre algumas dúvidas, mas estas desapareceram quando vi as impressões de fotografias feitas com ela. E, ao que parece, as Sigma de 19 e 30mm lançadas recentemente para câmaras mirrorless são muito interessantes - e custam cerca de €200.
Outra excepção é a existência de milhares de primes de altíssima qualidade no mercado das lentes usadas. Os que não se importam de focar à mão não devem hesitar: ainda há pouco referi que as lentes são bens duradouros, ao contrário dos corpos. Desde que não tenham riscos, poeiras no interior ou fungos, as lentes em segunda mão são uma aquisição segura. E barata: comprei a minha lente preferida, a Olympus OM 50mm/f1.4, por cem euros. E poderia ter pago ainda menos se a tivesse comprado no eBay, mas não quis correr riscos. Claro que, a menos que se tenha uma câmara com a mesma baioneta, a aquisição de uma lente em segunda mão implica a compra de um adaptador, mas marcas como a Photodiox fazem adaptadores baratos e de qualidade suficiente.
Mesmo que as lentes em segunda mão não sejam assim tão baratas, pode valer a pena comprá-las. Há lentes que são verdadeiramente imperecíveis: Leicas (ou Leitz/Wetzlar), Carl Zeiss, várias Olympus OM, algumas Pentax/Takumar... imaginem uma lente Leica Summilux prateada numa E-P1: transformaria esta câmara humilde numa pequena maravilha, estética e opticamente! (É melhor ficar por aqui com os sonhos, antes que caiam fios de baba sobre o teclado...)
Já com os zooms em segunda mão é necessário muito mais cuidado: os zooms antigos são push and pull, e não de rosca (o anel desliza ao longo da lente para aumentar ou diminuir a distância focal), e os mecanismos tendem a enfraquecer, fazendo com que a lente encolha sozinha quando é pousada na vertical. Além disso, usam só um anel para o zoom e para a focagem, o que torna a focagem mais difícil do que devia ser quando se fotografa com a câmara nas mãos (e não num tripé).
Termino repetindo que o mais importante é o novato conhecer as suas necessidades e determinar quais as distâncias focais que lhe permitem fotografar segundo a sua intenção antes de comprar. Os leitores de espírito mais agudo terão reparado que não estou a escrever para milionários que não sabem o que fazer ao dinheiro, mas para aspirantes a fotógrafos que querem comprar o melhor material possível sem terem de fazer uma segunda hipoteca sobre a casa - e, de preferência, sem cometer erros caros. Se quero fazer fotografia de rua, uso distâncias focais na ordem dos 35mm; se quero fazer paisagens, usarei distâncias entre os 17 e os 28mm (a partir daqui o ângulo de visão torna-se demasiado estreito). Se tenho interesse em retratos e flores, procurarei lentes de 50 a 100mm - ou superior. Já se quiser tornar-me num ornitólogo, nada com menos de 600mm me satisfará. E, evidentemente, se quero uma distância focal cujas dimensões sejam semelhantes ao modo como como as percebo a olho nu, essa distância é 45mm. Lembrem-se, contudo, da regra da equivalência: as distâncias focais a que me tenho vindo a referir são calculadas com base no filme de 35mm e apenas são exactas nestas câmaras e nas de sensor full frame. Numa Nikon com sensor APS-C, as distâncias focais inscritas na lente são multiplicadas por 1,5, pelo que a tal lente de 50mm é, na verdade, uma de 75mm. Nas câmaras com sensor 4/3 (Olympus e Panasonic), o factor de multiplicação é de 2, pelo que a Pancake de 17mm se comporta, na minha câmara, como uma lente de 34mm montada numa câmara com sensor full frame se comportaria (clique aqui para mais informação).
E, claro, nunca se esqueçam de procurar adquirir lentes com a maior abertura possível. Torçam o nariz a toda e qualquer lente com aberturas máximas inferiores a f3.5.
Há duas formas de não errar na compra de lentes. Uma é a aquisição de zooms de grande qualidade, como vimos no texto anterior. Sai caro - mas uma lente, ao contrário do corpo, é para a vida, e não para deitar fora quando chegar aos cem mil ou cento e quarenta mil disparos. Vale a pena partir o porquinho-mealheiro, como dizem os britânicos. Desde, claro está, que saibamos quais as distâncias focais de que realmente necessitamos.
A outra maneira de não cometer erros é apostar em boas lentes de distância focal fixa - as chamadas primes. Se eu soubesse o que sei hoje, só teria primes. Com elas, fotografar é, não apenas mais fácil (a focagem é muito menos problemática que com zooms), mas sobretudo mais divertido. Têm apenas a desvantagem de ser menos versáteis: com uma prime, a maneira de ampliar ou reduzir o tamanho de um objecto no enquadramento é aproximar-me ou afastar-me dele, o que é menos prático do que rodar um anel na lente - mas vale a pena. As primes não têm mecanismos complicados para além dos de focagem, e podem ser facilmente optimizadas para correcção das aberrações ópticas e, sobretudo, para grandes aberturas. Não conheço nenhum zoom capaz de f1.4; em contrapartida, há primes que chegam a f0.8!
Nunca é demais realçar a importância de uma boa abertura. Ela permite fotografar em condições de luz menos-que-óptimas sem flash e sem puxar pelo ISO, mas sobretudo ajuda a diminuir a profundidade de campo, característica essencial quando queremos obter aqueles planos de fundo diluídos que alguns fotógrafos perseguem como se fosse o Santo Graal (e eu sou um deles...) As boas primes podem ser muito caras, mas há diversas excepções a esta regra.
Uma delas é a existência de lentes de distância focal fixa baratas, mas capazes de imagens de altíssima qualidade. A Canon faz uma (a que já me referi por diversas vezes) que, exteriormente, é uma porcaria feita de plástico barato - mas diz quem sabe que, no que verdadeiramente conta - a qualidade da imagem - é uma pérola genuína: a EF 50/f1.8 II. E a Nikon tem uma equivalente - pobre Nikon, para sempre condenada a correr atrás da Canon... -, existindo ainda outras lentes das mesmas famílias noutras distâncias focais. E há outras primes baratas de qualidade mais que satisfatória: até a minha Pancake 17mm/f2.8 é uma lente respeitável. A sua qualidade suscitou-me sempre algumas dúvidas, mas estas desapareceram quando vi as impressões de fotografias feitas com ela. E, ao que parece, as Sigma de 19 e 30mm lançadas recentemente para câmaras mirrorless são muito interessantes - e custam cerca de €200.
Outra excepção é a existência de milhares de primes de altíssima qualidade no mercado das lentes usadas. Os que não se importam de focar à mão não devem hesitar: ainda há pouco referi que as lentes são bens duradouros, ao contrário dos corpos. Desde que não tenham riscos, poeiras no interior ou fungos, as lentes em segunda mão são uma aquisição segura. E barata: comprei a minha lente preferida, a Olympus OM 50mm/f1.4, por cem euros. E poderia ter pago ainda menos se a tivesse comprado no eBay, mas não quis correr riscos. Claro que, a menos que se tenha uma câmara com a mesma baioneta, a aquisição de uma lente em segunda mão implica a compra de um adaptador, mas marcas como a Photodiox fazem adaptadores baratos e de qualidade suficiente.
Mesmo que as lentes em segunda mão não sejam assim tão baratas, pode valer a pena comprá-las. Há lentes que são verdadeiramente imperecíveis: Leicas (ou Leitz/Wetzlar), Carl Zeiss, várias Olympus OM, algumas Pentax/Takumar... imaginem uma lente Leica Summilux prateada numa E-P1: transformaria esta câmara humilde numa pequena maravilha, estética e opticamente! (É melhor ficar por aqui com os sonhos, antes que caiam fios de baba sobre o teclado...)
Já com os zooms em segunda mão é necessário muito mais cuidado: os zooms antigos são push and pull, e não de rosca (o anel desliza ao longo da lente para aumentar ou diminuir a distância focal), e os mecanismos tendem a enfraquecer, fazendo com que a lente encolha sozinha quando é pousada na vertical. Além disso, usam só um anel para o zoom e para a focagem, o que torna a focagem mais difícil do que devia ser quando se fotografa com a câmara nas mãos (e não num tripé).
Termino repetindo que o mais importante é o novato conhecer as suas necessidades e determinar quais as distâncias focais que lhe permitem fotografar segundo a sua intenção antes de comprar. Os leitores de espírito mais agudo terão reparado que não estou a escrever para milionários que não sabem o que fazer ao dinheiro, mas para aspirantes a fotógrafos que querem comprar o melhor material possível sem terem de fazer uma segunda hipoteca sobre a casa - e, de preferência, sem cometer erros caros. Se quero fazer fotografia de rua, uso distâncias focais na ordem dos 35mm; se quero fazer paisagens, usarei distâncias entre os 17 e os 28mm (a partir daqui o ângulo de visão torna-se demasiado estreito). Se tenho interesse em retratos e flores, procurarei lentes de 50 a 100mm - ou superior. Já se quiser tornar-me num ornitólogo, nada com menos de 600mm me satisfará. E, evidentemente, se quero uma distância focal cujas dimensões sejam semelhantes ao modo como como as percebo a olho nu, essa distância é 45mm. Lembrem-se, contudo, da regra da equivalência: as distâncias focais a que me tenho vindo a referir são calculadas com base no filme de 35mm e apenas são exactas nestas câmaras e nas de sensor full frame. Numa Nikon com sensor APS-C, as distâncias focais inscritas na lente são multiplicadas por 1,5, pelo que a tal lente de 50mm é, na verdade, uma de 75mm. Nas câmaras com sensor 4/3 (Olympus e Panasonic), o factor de multiplicação é de 2, pelo que a Pancake de 17mm se comporta, na minha câmara, como uma lente de 34mm montada numa câmara com sensor full frame se comportaria (clique aqui para mais informação).
E, claro, nunca se esqueçam de procurar adquirir lentes com a maior abertura possível. Torçam o nariz a toda e qualquer lente com aberturas máximas inferiores a f3.5.
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