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É com a câmara que isto se faz, não com o Photoshop! |
Hoje entretive-me a ler um artigo no DPReview acerca do Photoshop CS6 Blur Gallery, um software do Photoshop CS6 que permite produzir um fundo esbatido a partir de uma imagem completamente nítida. Depois de o ler, fiquei com uma dúvida - a quem é que isto serve? Não compreendo como pode alguém que se arroga a qualidade de «fotógrafo» saber da existência deste software sem esboçar um esgar desdenhoso. Como é que alguém pode ser tão preguiçoso, ou tão inepto, ao ponto de não saber nem querer aprender como se reduz a profundidade de campo para produzir fundos esbatidos? É tão simples que me parece inconcebível haver quem precise daquele utensílio informático. Não vou ao ponto de dizer que só um idiota o usará (não quero ter mais comentários de gente ressabiada, ainda hoje recebi mais um), mas o potencial utilizador daquilo só pode ser alguém que prefere a complicação à simplicidade, o irreal ao natural e o artificial ao autêntico. Não será um idiota, mas é certamente alguém com concepções muito estranhas acerca de fotografia.
Já o disse aqui por várias vezes: obter aquilo a que se chama o bokeh é desconcertantemente simples. Claro que exige alguns requisitos técnicos, mas se eu consigo, qualquer um consegue. Basta ter uma lente com uma distância focal razoável - digamos a partir dos 70mm, mas quanto maior, melhor -, com uma boa abertura, na ordem dos f2.0 ou superior (a f1.4 as coisas começam a tornar-se seriamente interessantes). Claro que uma lente destas pode ser cara, mas não necessariamente: a Canon e a Nikon têm lentes 50mm/f1.8 extremamente baratas e de grande qualidade.
Preenchidos que estejam estes requisitos, é só escolher a abertura máxima, aproximar a lente do objecto que se quer manter em foco e disparar. A focagem automática faz o resto. Não vejo o que tem isto de complicado. aliás, nem é condição necessária ter focagem automática: as lentes manuais são tão ou mais capazes de produzir este efeito quanto as lentes contemporâneas de focagem automática. No meu caso, tenho uma lente que é especialmente apta para este tipo de fotografia: a minha venerada Olympus OM G.Zuiko Auto-S 50mm/f1.4, obviamente de focagem manual. Fotografar com esta lente é um prazer. Ver, no ecrã da câmara, a maneira como o fundo se vai esbatendo, reduzindo-se a manchas coloridas, enquanto o objecto vai ganhando nitidez à medida que rodo o anel de focagem, é uma experiência única, de uma beleza incomparável. Nada substitui esta experiência: consigo envolver-me por completo no acto de fotografar. É muito diferente estar no terreno e regular a câmara ou estar de frente ao monitor a usar pincéis virtuais ou manipular camadas. E muito mais divertido.
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Esta é a imagem que ilustra o artigo da DPReview. Completamente irrealista. |
Além de ser uma experiência estéril, o Blur Gallery produz resultados esteticamente desagradáveis. Pode ser interessante para quem cultive noções superficiais de beleza, mas a verdade é que a imagem manipulada torna-se irreal, inautêntica e artificial, sendo a manipulação demasiado notória. Enfim - uma experiência estéril que tem o potencial de privar o utilizador de aprender a técnica fotográfica (que, como vimos, até não é assim tão difícil). Daí que o meu conselho seja que o eventual interessado neste software poupe o seu dinheiro e amealhe mais um pouco para adquirir uma lente com boa abertura. A menos, claro, que seja demasiado preguiçoso para aprender uma técnica tão simples como esta.