quarta-feira, 14 de março de 2012

Rui Palha, fotógrafo de rua

Reincido no elogio. Vim há pouco do Facebook, no qual acabei de assistir aos insultos mais execráveis e rasteiros que vi na Internet, com os quais alguém se permitiu atingir uma pessoa que é minha amiga - e uma amiga que não o é apenas na Internet, mas na vida real. Como disse anteriormente, hoje em dia é mais fácil insultar que elogiar, e as pessoas parecem mais bem preparadas para receber a crítica e o insulto do que o cumprimento e o elogio: este último tende, como também já referi, a ser confundido com adulação, mas não é esse o meu propósito. Entendo que quem tem valor merece ser reconhecido e destacado, porque de contrário corremos o risco de mergulhar no lodaçal da mediocridade. Ademais, e como disse Manuel Laranjeira há mais de um século - sem que as coisas tenham mudado muito entretanto -, vivemos num país «...onde a inteligência é um capital inútil e onde o único capital deveras produtivo é a falta de vergonha e a falta de escrúpulos». E a fotografia de Rui Palha é a inteligência aplicada à arte fotográfica. Há, pois, que reconhecer mérito a quem o tem. O que não é o mesmo que adular, coisa da qual não tenho necessidade nem intento e, de resto, me repugna.
Rui Palha é um dos fotógrafos mais imaginativos e criativos cuja obra conheço. Tem uma predilecção pela fotografia a preto-e-branco, que usa na fotografia de rua, género que aprecio acima de qualquer outro (se procurarem os textos sobre as minhas referências, verão que os fotógrafos de rua ocupam lugares proeminentes). O que primeiro cativa, na obra fotográfica de Rui Palha, é a sua mestria técnica, em particular na escolha da composição e do enquadramento. Esta, contudo, não mais é que o veículo que atrai o olhar para a originalidade dos motivos escolhidos. Há, sem dúvida, uma forte inspiração de Rui Palha na fotografia de Henri Cartier-Bresson, bem patente em algumas das suas fotografias - mas quem é o fotógrafo de rua que se preze que não se inspirou no nome maior entre os maiores da fotografia? -, mas não é imitação: é homenagem. Há também, como marca da fotografia de Rui Palha, o forte sentido geométrico que, invariavelmente, domina as suas composições - jogando com sombras, linhas, enquadramentos e contrastes para criar imagens de uma dinâmica que quase chega a ser vertiginosa. Analisando - se é possível analisar algo quando estamos completamente envolvidos no conteúdo das fotografias e deliciados com a sua contemplação - as imagens de Rui Palha, diria que são os contrastes que mais vivamente as caracterizam: contrastes entre luz e sombra, rectas e curvas, movimento e estático. São estes contrastes que lhe conferem uma qualidade plástica que eleva a fotografia de Rui Palha a um nível superior. Rui Palha tem a capacidade, por mim invejada, de capturar um momento fugidio e passageiro conferindo-lhe uma composição que está muito perto de perfeita, reconhecendo de imediato o facto em si e os elementos gráficos da imagem que lhe vão conferir contexto.
Se tivesse de resumir a fotografia de rua de Rui Palha a um único adjectivo, seria este: surpreendente. As suas fotografias causam surpresa e admiração pela qualidade estética, pelo insólito dos episódios capturados e pela - repito-o - originalidade. Rui Palha é um fotógrafo bem conhecido da comunidade fotográfica portuguesa, e as suas fotografias são também reputadas lá fora; dispensava talvez, por redundantes, estes elogios, mas não posso deixar de os exprimir. Embora não conheça pessoalmente Rui Palha, sei o suficiente para dizer que ele é um fotógrafo que pensa a fotografia - o que é, no meu entender, uma característica importante, em particular nestes tempos em que a banalização e os artifícios da manipulação de imagens tendem a destituir a fotografia do seu estatuto de arte. Tal como Fernando Aroso, o homem que me impeliu a fotografar, Carlos Machado, que me ensinou o que eu não sabia sobre a câmara, e José Antunes, cuja dedicação à fotografia, neste país perdido e confuso, recebe o meu mais veemente aplauso, também Rui Palha é inteiramente merecedor do meu reconhecimento. Pertence ao punhado de fotógrafos que, pelo valor da sua obra, não pode ficar ignorado.
A fotografia de Rui Palha pode ser vista aqui:
www.ruipalha.com
http://www.flickr.com/photos/ruipalha/

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Amigo Rui,

Tive a oportunidade de o conhecer ontem na Alameda, sou o Luis, o do chapeu preto.
Vim ao seu blog e fiquei arrasado.
Mas como é possivel ainda não ter descoberto este site!!!
Muitos parabéns pelo seu maravilhoso trabalho.

Viva o 1º de Maio.
A luta continua.

Luis

Manuel Vilar de Macedo disse...

Luís, acho que se enganou no blogue...