domingo, 4 de março de 2012

Manual das aberrações fotográficas (2)


Outras aberrações, igualmente detrimentais para a qualidade da imagem, são as aberrações cromáticas. Estas são um defeito de certas lentes que, por um efeito de refracção dos diferentes comprimentos de onda das cores em que se decompõe a luz captada, não conseguem focar correctamente a totalidade do espectro cromático. São, por via de regra, uma demonstração de mediocridade na concepção dos elementos ópticos da lente, mas as aberrações cromáticas também podem acontecer com lentes de qualidade superior. É o que se verifica quando se montam lentes antigas – i. e. anteriores à era digital – em câmaras digitais, uma vez que as primeiras foram concebidas para responder a uma gama dinâmica que a câmara digital, cuja gama dinâmica tem características diferentes, não interpreta correctamente. (Quanto a esta questão, que se relaciona com a densidade dos pixéis do sensor, vd. Michael Freeman, Mastering Digital Photography, Ilex, pp. 623-624.)
Por regra, as aberrações cromáticas manifestam-se sob a forma de orlas púrpura ou vermelhas à volta do objecto fotografado. Cada cor tem um comprimento de onda diferente, pelo que, quanto maior for esse comprimento, maior será a sua visibilidade numa imagem na qual a aberração cromática seja evidente. Daí que o azul e o vermelho sejam as cores mais visíveis, porque os seus comprimentos de onda são maiores. No caso da fotografia no topo deste texto, parece evidente que a câmara não conseguiu focar a totalidade do comprimento de onda do azul, o que explica as horrendas orlas azuis à volta da folhagem (a imagem foi obtida quando experimentava a lente OM de 28mm/f3.5); já a imagem abaixo, que é um crop muito ampliado de uma das primeiras fotografias tiradas quando experimentava a E-P1, foi obtida com uma lente especificamente concebida para câmaras digitais, a 17mm/f2.8, que é um verdadeiro compêndio de aberrações da imagem. Aqui é visível a orla púrpura, que não mais é que o resultado da combinação dos comprimentos de onda das cores azul e vermelha, que o sensor não pôde captar convenientemente por erro de focagem das mesmas.
Exemplo das aberrações cromáticas mais comuns
Deve notar-se, contudo, que as aberrações cromáticas se manifestam sobretudo em grandes ampliações. Numa fotografia publicada na Internet, em tamanho reduzido, a refracção da cor é praticamente imperceptível. De igual modo, elas são mais visíveis quando existem grandes contrastes entre o plano de fundo - especialmente quando este é o céu - e o objecto fotografado.
Sendo a aberração cromática um defeito óptico, resultante da concepção da lente ou da sua incompatibilidade com o sensor, não há muito que possa ser feito para a evitar antes do momento em que se pressiona o botão do disparo - salvo trocar a lente por uma melhor. Algumas câmaras, como as Panasonic para micro 4/3, corrigem as aberrações cromáticas, pelo que, tal como acontece com a correcção da distorção geométrica nas Olympus, o fotógrafo nem sequer se chega a aperceber da sua existência. As aberrações cromáticas podem também ser corrigidas em alguns programas de edição de imagem, como o Photoshop (ver aqui como se faz essa correcção).  

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