Um dia perguntaram a Anton Bruckner qual o significado do Finale da sua 8.ª Sinfonia. Habituados à religiosidade de Bruckner, muitos tentaram ouvir louvores a Deus, à imortalidade da alma e outros significados beatos naquele andamento soberbo e imponente. Anton Bruckner respondeu, com a simplicidade rústica que o caracterizava: «o Kaiser foi a Viena para discutir a guerra com o Imperador». Todos ficaram desiludidos com uma explicação tão terrena. (Mas a verdade é que aquele Finale tem mesmo uma sonoridade marcial.)
Na arte nem tudo tem de ter um significado - ou, pelo menos, o significado que alguns querem por força ver em determinada obra. Por vezes o significado não é óbvio, noutras vezes não tem de ter significado nenhum - o que não quer dizer que a obra seja sem propósito. Tentar encher a arte de conteúdo é, por vezes, mais uma tarefa para os críticos e apreciadores que para o autor. A arte é a expressão de um pensamento, de uma maneira pessoal de ver o mundo - mas é, sobretudo, uma emanação do mundo interior do artista, logo impossível de objectivar.
A mim pouco interessa - pelo menos por agora, que ainda não domino a fotografia - que achem que as minhas fotografias são desprovidas de significado. Aliás, nem sequer tenho o atrevimento de qualificá-las como arte. Contudo, tento (se consigo ou não, deixo-o ao critério de quem vê) que elas digam alguma coisa, e quando as faço é com uma intenção. Não tiro fotos ao acaso, mas apenas àquilo que me parece interessante e merecedor de ser fotografado. Por mais frívolo ou trivial que pareça o resultado.
No caso da fotografia acima, da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, procurei um enquadramento que exprimisse a essência da arquitectura de Siza Vieira: a integração no meio circundante, aprendida com Alvar Aalto, a geometria das linhas e a mestria com que Álvaro Siza lida com a luz e a sombra. E quis, também, ver os edifícios de uma perspectiva interessante - neste caso a partir da pequena guarita (eu sei que não é uma guarita, mas parece...) construída na parte oeste do conjunto arquitectónico. Foi como se visse a obra de Siza Vieira através da obra de Siza Vieira, como ele provavelmente quis que ela fosse vista daquele ponto (se não, porque teria construído aquela passagem ali, como se fosse um gigantesco postigo com vista para a faculdade?) Não quis que ela exprimisse uma mensagem, mas sim interpretar a maneira como o arquitecto concebeu aquele espaço do ponto de vista visual. Se consegui ou não, só o próprio Siza o poderá dizer - mas pelo menos tentei.
Também não estou preocupado se as minhas fotografias são um enorme sucesso. As fotografias de flores estiveram na moda até meio deste ano, altura em que parecia que todo o fotógrafo digno desse nome se dedicava a esse tema, mas o que me levou a fotografar flores não foi a necessidade de que toda a gente gostasse das minhas fotografias; foi a conjugação do desejo de fotografar com profundidades de campo reduzidas com o facto de ter finalmente uma lente que não me limitava tecnicamente para o fazer. E a profundidade de campo diminuta - a que muitos chamam bokeh - resulta particularmente bem nas fotografias de flores. Uma flor é uma flor; não há qualquer significado oculto numa flor, nem numa fotografia de uma flor. Porque o único sentido oculto das coisas/É elas não terem sentido oculto nenhum, citando Fernando Pessoa disfarçado de Alberto Caeiro. Que conteúdo se pode extrair de uma planta? Apenas que é uma planta. Se, acidentalmente, essa planta é de uma beleza extrema, porque não deveria fotografá-la - e fotografá-la de maneira a mostrar todo o seu esplendor?
Há quem faça fotografia para agradar aos outros. Eu não. Ou melhor: gosto de reconhecimento como qualquer outra pessoa, mas não busco fórmulas para agradar a toda a gente. Claro que a fotografia apenas faz sentido se for partilhada - o mesmo se pode dizer de qualquer outra arte -, mas as minhas fotografias são, acima de tudo, ilustrações de uma evolução que ainda está muito, muito longe de chegar aos patamares superiores da fotografia, e devem ser vistas como tal. Não caio no ridículo de me apresentar como «fotógrafo artístico», mas quero que a minha fotografia tenha significado - mesmo que esse significado possa ser muito pessoal, e não aquele que quem a vê dela depreende.
A mim pouco interessa - pelo menos por agora, que ainda não domino a fotografia - que achem que as minhas fotografias são desprovidas de significado. Aliás, nem sequer tenho o atrevimento de qualificá-las como arte. Contudo, tento (se consigo ou não, deixo-o ao critério de quem vê) que elas digam alguma coisa, e quando as faço é com uma intenção. Não tiro fotos ao acaso, mas apenas àquilo que me parece interessante e merecedor de ser fotografado. Por mais frívolo ou trivial que pareça o resultado.
No caso da fotografia acima, da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, procurei um enquadramento que exprimisse a essência da arquitectura de Siza Vieira: a integração no meio circundante, aprendida com Alvar Aalto, a geometria das linhas e a mestria com que Álvaro Siza lida com a luz e a sombra. E quis, também, ver os edifícios de uma perspectiva interessante - neste caso a partir da pequena guarita (eu sei que não é uma guarita, mas parece...) construída na parte oeste do conjunto arquitectónico. Foi como se visse a obra de Siza Vieira através da obra de Siza Vieira, como ele provavelmente quis que ela fosse vista daquele ponto (se não, porque teria construído aquela passagem ali, como se fosse um gigantesco postigo com vista para a faculdade?) Não quis que ela exprimisse uma mensagem, mas sim interpretar a maneira como o arquitecto concebeu aquele espaço do ponto de vista visual. Se consegui ou não, só o próprio Siza o poderá dizer - mas pelo menos tentei.
Também não estou preocupado se as minhas fotografias são um enorme sucesso. As fotografias de flores estiveram na moda até meio deste ano, altura em que parecia que todo o fotógrafo digno desse nome se dedicava a esse tema, mas o que me levou a fotografar flores não foi a necessidade de que toda a gente gostasse das minhas fotografias; foi a conjugação do desejo de fotografar com profundidades de campo reduzidas com o facto de ter finalmente uma lente que não me limitava tecnicamente para o fazer. E a profundidade de campo diminuta - a que muitos chamam bokeh - resulta particularmente bem nas fotografias de flores. Uma flor é uma flor; não há qualquer significado oculto numa flor, nem numa fotografia de uma flor. Porque o único sentido oculto das coisas/É elas não terem sentido oculto nenhum, citando Fernando Pessoa disfarçado de Alberto Caeiro. Que conteúdo se pode extrair de uma planta? Apenas que é uma planta. Se, acidentalmente, essa planta é de uma beleza extrema, porque não deveria fotografá-la - e fotografá-la de maneira a mostrar todo o seu esplendor?
Há quem faça fotografia para agradar aos outros. Eu não. Ou melhor: gosto de reconhecimento como qualquer outra pessoa, mas não busco fórmulas para agradar a toda a gente. Claro que a fotografia apenas faz sentido se for partilhada - o mesmo se pode dizer de qualquer outra arte -, mas as minhas fotografias são, acima de tudo, ilustrações de uma evolução que ainda está muito, muito longe de chegar aos patamares superiores da fotografia, e devem ser vistas como tal. Não caio no ridículo de me apresentar como «fotógrafo artístico», mas quero que a minha fotografia tenha significado - mesmo que esse significado possa ser muito pessoal, e não aquele que quem a vê dela depreende.
Sem comentários:
Enviar um comentário