Sendo a minha paixão pela fotografia muito recente, não tive tempo para construir um capital de nostalgia por câmaras do passado. E é provável que nunca a venha a conhecer, nestes tempos em que uma câmara se torna intoleravelmente obsoleta ao fim de dois anos ou menos. Apesar de já não ser jovem, não consigo olhar para a montra da Photomaton com saudade, porque nunca tive nenhuma das câmaras que por lá aparecem; nem tenho interesse em voltar a tempos que nunca vivi, comprando uma câmara analógica, porque o digital praticamente só tem vantagens. O mais retro que sou capaz é quando uso as lentes de focagem manual, mas confesso que só as tenho porque foi a maneira que encontrei de ter lentes de muito alta qualidade por pouco dinheiro. A OM 28mm/f3.5 custou-me €110, a OM 50mm/f1.4 €100, e o monstro, a Vivitar 75-300, custou outros €100. Mesmo com o adaptador MF-2, que me custou a insignificância de €190,00, o dinheiro que gastei com estas lentes não chegaria para adquirir a Panasonic-Leica 25mm/f1.4, ou a Olympus 9-18mm. Ter um corpo analógico, porém, significaria despesa com rolos e revelações, caminho que não quero prosseguir - apesar de haver qualquer coisa na fotografia analógica que é antagónica da frieza asséptica da fotografia digital e que, por vezes, me faz sentir saudades de tempos que não vivi (mas vi).


De todas as câmaras expostas, só duas ou três me impressionaram: uma SLR da Canon, por ter montada uma lente 50mm/f0,95, a Olympus O-Product - mais por curiosidade do que pela funcionalidade - e uma das primeiras Leicas, da era pré-Hermés e pré-Walter de'Silva. Esta sim, é uma daquelas câmaras que apetece comprar nem que seja só pelo prazer de a ter - mesmo que não se façam fotografias com ela. Uma câmara com um visor óptico externo belíssimo, e com uma linha que, excepto pelo tamanho dos comandos no painel superior, pode ser considerada intemporal. Se hoje fizessem uma câmara inspirada nesta, visor externo e tudo, seria um êxito!

Não vivo, deste modo, preso ao passado, nem consigo sentir nostalgia por peças de museu. O que não significa que o passado da fotografia não me mereça respeito, ou que seja um tarado da tecnologia, um escravo das modas que se ilude com as promessas de um futuro tecnologicamente perfeito no qual não há lugar para coisas do passado como a focagem manual. Vivo no presente; esta é a minha era. Não vivo para sonhar com um futuro ilusório nem para sonhar com um passado a que não pertenci. Olhar para aquele material fotográfico, porém, não deixa de me fazer pensar que foi feito com um espírito que hoje se perdeu por completo. Tenho a certeza que, em 2060, não haverá uma Nikon D800E ou uma Olympus E-P1 em exposição em nenhuma parte do mundo, porque todas terão sido recicladas ou destruídas pelos seus donos depois de as terem trocado pelo modelo que saiu dois anos depois (ou menos) de as terem adquirido. Definitivamente, perdeu-se aquele espírito pioneiro de fazer evoluir as coisas para obter a melhor qualidade possível. Agora fazem-se câmaras para serem vendidas.
2 comentários:
nota à parte - 190 Euros? bolas...
Uma palavra: Fotodiox.
ainda vais a tempo de vender o adaptador MF2 no ebay e comprar um fotodiox na amazon.
:P
grouchomarx
E será que tem a mesma qualidade? O MF-2 é uma belíssima peça de engenharia de precisão. Made in Japan e tudo!
De qualquer maneira, dividindo o preço do adaptador pelo número de objectivas, a despesa dilui-se - é como se acrescentasse €63,33 ao preço de cada lente. E não penso ficar por aqui na aquisição de lentes OM: estou morto por deitar as mãos a uma 24mm e a uma zoom 18-35.
Enviar um comentário