Se não ficasse demasiado comprido, o título deste texto seria «Como lidar com uma superteleobjectiva de focagem manual». Lidar com uma teleobjectiva já é difícil, mas a focagem manual vem multiplicar essa dificuldade por dois.
Como sabem, ontem resgatei a Vivitar 75-300mm/f4.5-5.6; para não ter uma objectiva metida numa gaveta, nem deixar que aquela se torne num bibelot inútil, decidi que havia de aprender a tirar partido deste mastodonte. (A câmara, equipada com esta lente e o adaptador, fica a pesar 1,280 kg, e não cabe no meu saco mais pequeno!) Esta manhã fiz diversas fotografias no Jardim Botânico, sem esperar bons resultados. Estava nublado, pelo que as velocidades do disparo, mesmo com a abertura em f4.5, raramente excediam 1/125, o que, se dificultou a precisão da focagem, também serviu como treino para aprender a segurar a câmara e a lente (não levei o tripé). Um dos benefícios que esperava de uma teleobjectiva que atinge 600mm de distância focal efectiva era uma profundidade de campo reduzida, mas a verdade é que não obtive melhores resultados do que quando uso a OM de 50mm (100mm efectivos). Porquê? Por causa da abertura, que é muito mais importante do que a distância focal em matéria de profundidade de campo. f1.4 é imbatível - tanto que chega a ser injusto comparar ambas as lentes.
Então o que pode a 75-300 dar-me que as outras não dêem? Numa palavra: alcance. Esta teleobjectiva é portentosa: consigo grandes planos a 20 metros de distância, e preencho o enquadramento a distâncias que me obrigariam a aproximar-me do objecto com outras lentes. Isto significa que posso usar uma distância de focagem mais extensa, embora à custa de uma compressão drástica da perspectiva em todos os planos. Se quisesse fazer a fotografia ao lado com a OM de 50mm, teria de ter entrado na água - o que, convenhamos, seria um pouco desagradável.
Outra vantagem desta lente é o facto de oferecer imagens de enorme nitidez. Este é um aspecto que só pude confirmar depois de aprender a segurar a câmara com esta objectiva montada com um grau suficiente de firmeza, mas mesmo assim é necessário ter em conta que esta é uma lente de focagem manual. E, mesmo com a ajuda à focagem, é difícil visualizar a imagem correctamente por causa da tremedeira. A câmara não é a mais ergonómica do mundo, nem a mais adequada para uma objectiva deste peso e tamanho, o que me faz suspirar por uma pega ao estilo das DSLR.
O facto de ter conseguido imagens com um bom nível de nitidez deixou-me contente. O Carlos Machado, formador do IPF que orientou o workshop que frequentei, assegurou-me que era possível dominar uma câmara com uma lente avantajada e que, com a prática, se conseguiam fotografias sem arrastamento segurando-a com as mãos. É verdade. Confirmei-o hoje.
Para dar um bom uso a uma superteleobjectiva como esta são necessários diversos cuidados. Antes de mais, estas lentes são, imperativamente, para ser usadas no máximo da abertura. Claro que isto tem repercussões na profundidade de campo, o que leva inevitavelmente a planos de fundo desfocados. Usar aberturas mais estreitas, como quando se quer nitidez em todos os planos, torna impossível segurar a câmara com as mãos sem provocar arrastamento, pelo que a única alternativa, nestes casos, é o uso de um tripé.
Deve também evitar usar-se objectivas como esta em condições de luz escassa. Mesmo na abertura máxima, as velocidades de disparo requeridas em condições de pouca luz são demasiado baixas para segurar a câmara à mão. E há que ter em consideração que a maioria dos zooms é de abertura variável (e este é um deles), pelo que a abertura máxima diminui quando se aumenta a distância focal.
Lentes como estas requerem câmaras decentes. Não pela qualidade da imagem, embora este seja obviamente um factor importante, mas pela ergonomia. Não é com câmaras com a minha que se tira o melhor partido de uma superteleobjectiva. Apesar de o desafio ser maior, e a satisfação por obter boas imagens ser exponencialmente ampliada, a verdade é que lentes grandes e pesadas exigem corpos ergonómicos e robustos, concebidos para o uso de qualquer tipo de objectiva. Um corpo ergonómico facilita a tarefa de segurar a câmara e beneficia a nitidez da focagem.
E, quando não for possível de todo segurar a câmara com as mãos, não se deve hesitar em usar o tripé. Se possível, com um anel de fixação que permita que seja a lente, e não o corpo, o que vai ser fixado ao tripé.
Talvez não tenha sido tão mau não ter conseguido vender a Vivitar. Ela tem muito a seu favor. Além do alcance, tem boas cores e é razoavelmente isenta de aberrações e distorções, o que significa que emprega vidro de boa qualidade. E é muito bem construída. Não é uma lente que se use todos os dias, nem em quaisquer circunstâncias, mas uma vez dominada, e dentro dos seus limites - ou melhor: dentro daquilo para que foi concebida e construída - pode ser bem divertida de usar, e com resultados muito satisfatórios.
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