Um blogue inteiramente gratuito, sem publicidade, escrito nas horas vagas - ou naquelas que propositadamente torno vagas para poder escrever - e sem outro intuito que não seja compartilhar e descrever a aprendizagem da fotografia: este foi, e é, o propósito do ISO 100. Com o tempo, tornei este blogue num local de observação sobre o fenómeno da fotografia nas suas diversas facetas, de exposições de fotografia a algumas novidades da indústria fotográfica. Durante todo este tempo (no próximo dia 19 o ISO 100 perfaz um ano), obriguei-me muitas vezes a procurar temas para escrever - porque é frequente não ter nada de novo a dizer, ou porque me falha a inspiração, ou simplesmente porque não me apetece escrever -, de maneira a publicar textos neste espaço com regularidade. Não dou este tempo por perdido: com uma média de cem visitas diárias e 23 seguidores, atingidos em menos de um ano num país que, genericamente, se está a borrifar para a fotografia enquanto arte, e não sendo eu uma figura proeminente da fotografia nacional, parece-me que não é muito mau. Podia ser melhor, mas não tenho pressas nem pretensões excessivas.
Mesmo que este não seja o blogue mais popular do mundo, este número de leitores (um dos meus textos foi lido por mais de setecentas pessoas) obriga-me a escrever com rigor e a procurar que tudo quanto escrevo seja devidamente fundado. Quando faço afirmações, preocupo-me em fundamentá-las, por vezes chegando ao vício académico de incluir referências bibliográficas em notas de rodapé, como nas sebentas e calhamaços conimbricenses por que estudei. Não faz o meu género falar «de cor», porque desde muito novo fui instruído para justificar as minhas afirmações e aprendi que tudo quanto possa ser afirmado é válido, desde que devidamente fundamentado. Há, todavia, um domínio que está subtraído a este rigor - a subjectividade. Estão aqui os meus gostos pessoais, que não podiam deixar de se repercutir no que escrevo. Embora seja voz comum que gostos não se discutem, os (felizmente poucos) ataques a este blogue ocorrem precisamente quando exprimo os meus gostos. Já me disseram que eu era pago para dizer bem de umas marcas e mal de outras, que tenho a desfaçatez de, sendo inexperiente, dar lições a fotógrafos com dezenas de anos de experiência, ou que sou arrogante e mal educado. Isto é algo que não posso evitar: por mais cuidado que tenha em ser explícito e separar o que é objectivo - os factos - dos meus conceitos e gostos pessoais, haverá sempre quem leia aqui, não o que efectivamente escrevi, mas aquilo que pensam que eu escrevi. E muitas dessas pessoas nem sequer se dão ao trabalho de ler com atenção e de procurar o verdadeiro sentido das minhas palavras inserindo-as num contexto: interpretam-nas à sua maneira e tiram conclusões falsas com que depois me confrontam. Este é um risco corrido por quem expõe o que pensa, e já li longas e amargas lamentações de bloguistas (Mike Johnston, do The Online Photographer, é um dos exemplos que me vem à mente, mas há outros) por causa desta atitude dos comentadores. A verdade é que nem toda a gente está predisposta a interpretar o que lê de acordo com o pensamento de quem escreve, preferindo adaptar as palavras lidas ao seu próprio pensamento. Ainda há dias me imputaram um «ódio de estimação» às DSLR, o que é completamente falso. Eu não tenho uma DSLR porque não preciso de uma dessas câmaras para os tipos de fotografia a que me dedico e porque o meu gosto em relação a câmaras foi forjado pelas rangefinders, pelas Leicas M, pelas Minolta 7 e 8 e outras câmaras de telémetro cuja estética nunca caiu verdadeiramente em desuso, mas nunca me passou pela cabeça dizer que as DSLR não têm qualidade só porque não gosto das suas linhas, nem sou do estilo de fomentar o espírito de capelinha, que me parece completamente inadequado. A estética é fundamental nas minhas escolhas, mas não sou frívolo. Tenho amigos que usam DSLRs e procuro, sempre que possível, dar-lhes conselhos - embora indirectamente, sem mencionar nomes, porque sei que há muitos mais que podem reflectir sobre esses conselhos - sobre como explorar o enorme potencial destas câmaras. Só o faço quando tenho a certeza absoluta sobre o que estou a escrever. Uma das minhas máximas favoritas é de Ludwig Wittgenstein: «sobre aquilo que sabemos, devemos falar abertamente; sobre o que não sabemos, devemos permanecer calados». Embora os meus textos possam conter erros, estes são o resultado de más interpretações de determinados conceitos e da falta de experiência. Esta última é assumida, e quem vir o blogue com atenção reparará que, logo abaixo do título, na descrição do blogue, inseri a frase «aprendendo a fotografar». Com tão poucos a escrever sobre fotografia em Portugal - e ainda menos sem publicidade ou apoios de qualquer espécie -, o esforço que faço para escrever um blogue interessante, acessível e com conteúdo leva-me a sentir as críticas injustas com mais amargura do que devia.
Como referi no início, este blogue é uma espécie de diário de bordo no qual narro as minhas descobertas e experiências. Nunca tive a pretensão de dizer a alguém que deve comprar o equipamento tal ou tal, ou que deitasse fora a sua DSLR porque é uma porcaria. Não faço publicidade nem promovo nenhuma marca: as referências elogiosas à câmara que uso são muito frequentemente temperadas por descrições objectivas e imparciais sobre os seus defeitos e, por outro lado, esta é, a par da compacta que usei entre 29 de Julho de 2010 e 27 de Abril do ano passado, a única câmara que posso dizer que conheço a fundo. É uma câmara que comprei por gostar dela, depois de me certificar, sem que sobrasse espaço para dúvidas ou reservas, que era uma boa câmara. Já fotografei com DSLRs da Canon e da Nikon, mas precisava de, no mínimo, duas semanas a usá-las diariamente para as entender e outras duas para fazer fotografias minimamente decentes com elas, pelo que não devem esperar encontrar aqui ensaios dessas câmaras. Por não ter pretensões a tanto, nunca assumi o papel de guru ou mestre da fotografia (eu nem sequer me considero um fotógrafo, porque não vivo da fotografia), nem de porta-estandarte de nenhuma marca ou formato - mas a verdade é que não posso, por mais esforços que faça, impedir que alguém interprete o que escrevo nesse mesmo sentido. Não posso evitar que concluam que odeio algo apenas porque teci opiniões críticas sobre isso, nem que trunquem e distorçam o que escrevo para o adequar àquilo que pensam que eu escrevi. Felizmente, porém, estas são as excepções; ao que parece, a maioria dos leitores deste blogue compreende o seu espírito e interpreta convenientemente o que escrevo. Ainda bem: o que eu quero é que os leitores achem, como disse um leitor e meu amigo facebookiano, que este é um blogue porreiro. Foi o melhor elogio que recebi, por sintetizar o que eu quero que os leitores sintam ao lê-lo.
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