sábado, 11 de agosto de 2012

Mortos, quentes e encravados

Mais um título enigmático. O que quero referir hoje é o facto de, por vezes, poderem surgir pontos luminosos na imagem - pontos brancos ou coloridos, que são vermelhos, azuis ou verdes neste último caso (os vermelhos são os mais conspícuos). Já certamente aconteceu a muitos fotógrafos, especialmente em fotografias com exposições longas - em particular de cenas nocturnas -, abrir a imagem no programa de edição e reparar que aquela está completamente coberta por pequenos pontos brancos ou coloridos.
Estes pontos são pixéis que não fizeram aquilo que lhes era pedido - captar a luz correctamente -, e devem-se exclusivamente a problemas do sensor. O fotógrafo escusa de mandar limpá-lo, porque não são grãos de poeira; tão-pouco é pó acumulado sobre o vidro da lente, e certamente não são partículas suspensas na atmosfera (como estupidamente cheguei a especular). Também não se deve culpar o programa de edição de imagem, porque este não é o responsável pelo problema. O que acontece é que o sensor é constituído por vários milhões de células electrónicas de tamanho microscópico que, por meio de descargas eléctricas, se tornam sensíveis à luz e a captam. Algumas destas células deixam, por qualquer motivo, de funcionar, ou pelo menos de o fazer correctamente. Como as células estão dispostas num arranjo dito filtro Bayer, captando as cores primárias verde, vermelho e azul (RGB) (*), alguns pixéis surgem na imagem com a cor primária que lhes cabia captar, em lugar da cor real do objecto. São os pixéis encravados, ou fixos, conforme queiramos traduzir o adjectivo stuck.
Os pixéis mortos são provocados por fotossensores que deixaram de funcionar e manifestam-se como pontos negros na imagem. Isto é algo que acontece naturalmente com o desgaste do material, mas também é certo que muitos dos fotossensores deixam de funcionar logo após o fabrico do sensor, sendo montados no corpo da câmara assim mesmo. Muitos escapam ao controlo de qualidade, já que a sua dimensão microscópica faz com que passem despercebidos.
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Depois há aqueles que, numa má tradução literal de hot, denominei pixéis «quentes». Estes são o resultado do aquecimento do sensor durante exposições longas - daí o nome - e manifestam-se como pontos brancos que invadem a imagem e são particularmente visíveis nas áreas de sombras (v. a imagem imediatamente acima, que é um crop da fotografia do topo).
Sejam quais forem os pixéis defeituosos, estes arruínam por completo o prazer de ter feito as fotografias por eles afectadas. As manchas geradas podem ser removidas na pós-produção, mas o seu número elevado leva a que esta seja uma tarefa fastidiosa. A solução para evitar o aparecimento de pontos brilhantes e de pixéis mortos é o mapeamento de pixéis. Esta tarefa implica a entrega da câmara a um técnico, o que pode significar ficar sem fotografar durante algum tempo, mas algumas marcas permitem que o mapeamento seja feito pelo utilizador através de uma função incorporada nos menus. Alguns modelos fazem este mapeamento automaticamente. No meu caso particular, o mapeamento deve ser feito uma vez por ano. Quando se mapeia o sensor, o problema dos pixéis mortos e fixos é resolvido através de algoritmos pelos quais os pixéis que circundam os defeituosos interpolam o espaço ocupado pelos pixéis defeituosos.
O problema dos pixéis quentes resolve-se accionando a redução do ruído da câmara. Apesar de esta ser uma prática que os fabricantes de software de processamento da imagem desaconselham, a sua acção pode ser a única forma de contrariar os efeitos destes pixéis que se manifestam em exposições longas. A redução do ruído produz uma imagem dupla que é sobreposta à imagem colhida pelo sensor - o que efectivamente dobra o tempo de exposição - e mascara, quer o ruído propriamente dito, quer os pixéis defeituosos. A redução do ruído na câmara interfere negativamente com a do programa de edição, uma vez que contribui para o esbatimento dos pormenores afectados pelo ruído, mas penso que esta questão pode ser contornada através de um uso judicioso da redução do ruído na pós-produção. É que esta última pode ser ineficaz no tratamento dos pixéis defeituosos, já que este problema não é, tecnicamente, similar ao ruído, pelo que o software pode não o corrigir.
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(*) Nem todos os sensores usam o filtro Bayer. Os sensores Foveon usam uma disposição diferente, com três filtros de cor sobrepostos (correspondendo a cada uma das cores primárias), em lugar de combinar os captores das cores primárias num único filtro. Contudo, a esmagadora maioria dos sensores usa o sistema Bayer - que, é importante referir, nada tem que ver com a Aspirina.  

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